Homem detido erradamente no ataque de Berlim teme pela vida

Paquistanês decide falar ao The Guardian por recear pela sua segurança e relata o que passou na prisão.

Foto
Naveed Baloch estava no sítio errado à hora errada Haneef Baloch

Naveed Baloch estava atravessar uma rua no centro de Berlim, na tarde de 19 de Dezembro, depois de deixar a casa de um amigo, quando viu um carro a alta velocidade vir contra si. Era um carro da polícia. Pediram-lhe um cartão de identificação, levaram-no para a esquadra, despiram-no e tiraram-lhe fotografias. “Quando resisti começaram a esbofetear-me”, relata o jovem de 24 anos, identificado como paquistanês, e detido erradamente por ter sido relacionado com ataque mortífero no mercado de Natal, em Berlim.

O suspeito – que na altura foi identificado como Naveed B. pela polícia e pelo ministro alemão do Interior – acabaria por ser libertado dias depois da investida de um camião no mercado de Natal, provocando a morte a 12 pessoas e ferimentos noutras 48. Agora, decidiu falar ao jornal The Guardian por temer pela sua segurança. Vive escondido, teme pela sua vida e já não se sente seguro no país que o acolheu, desde Fevereiro deste ano, como refugiado de um movimento separatista do Baluchistão, uma província que é um alvo frequente de extremistas religiosos no Paquistão.

Na noite em que foi detido, a polícia trouxe um tradutor que não falava a sua língua nativa mas sim punjabi e urdu. Só esta última permitiu alguma comunicação. A polícia confrontou-o com o ataque e com o facto de estar atrás do camião. Baloch não sabia sequer do que tinha acontecido e disse que não sabia conduzir. “Eu disse-lhes calmamente que nem sequer sabia conduzir nem pôr um carro a trabalhar. Disse-lhes que havia morte e guerra no meu país e que é por isso que fugi para pedir ajuda. Vocês aqui na Alemanha estão a dar-me alimentação, medicamentos e segurança. São como se fossem a minha mãe. Se acharem que eu estou a fazer essas coisas no vosso país não me devem dar uma morte fácil, devem cortar-me aos bocados devagar”, contou, em exclusivo, ao jornal britânico.

O jovem refugiado relata o tratamento agressivo que teve na prisão durante dois dias e uma noite. Só lhe deram chá e bolachas, mas não conseguiu comer porque as bolachas eram “horríveis” e o chá estava frio. Logo na noite da detenção, a polícia disse ter dúvidas sobre o seu envolvimento no ataque por não ter vestígios de sangue que o autor do ataque teria depois de ter lutado com o condutor do camião a quem roubou o veículo.

Na altura em que a polícia o libertou, já procurava por Anis Amri, um tunisino que deixou os documentos de identificação no camião, e que viria a ser morto mais tarde por agentes da polícia em Milão. Tal como Baloch, Amri tinha a pele escura, mas as semelhanças ficavam-se por aqui.

Depois de ser libertado, Baloch foi levado para um hotel de onde não deveria sair. Não porque estivesse sob suspeita, mas porque a sua vida poderia estar em perigo. E não deveria voltar ao abrigo de refugiados onde tinha vivido nos últimos meses e que tinha sido alvo de um raide das forças especiais da polícia, no dia seguinte ao do ataque. 

Sugerir correcção
Ler 5 comentários