Governo espanhol autoriza construção de depósito de resíduos nucleares na central de Almaraz

Quercus pede ao Governo português que " abandone a passividade e a inacção" e intervenha junto das autoridades espanholas e europeias.

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Informação veiculada na última quarta-feira através do Boletim Oficial do Estado (BOE) confirma: Governo espanhol deu parecer favorável para executar e montar um armazenamento individualizado (ATI) de resíduos nucleares junto à central nuclear de Almaraz, localizada na Extremadura espanhola, junto à fronteira com Portugal.  

O projecto neste sentido foi apresentado pelo consórcio Iberdrola, Endesa Generación e Gas Natural, que explora a central de Almaraz.

A organização ambientalista Quercus diz que a construção do ATI “é um perigoso sinal de que existem fortes movimentações em Espanha” para que a central não encerre no prazo definido. Para evitar que se concretize o armazenamento de resíduos nucleares nas proximidades da fronteira portuguesa e junto ao rio Tejo, a Quercus considera “fundamental que o Governo Português actue com celeridade e mais firmeza”, para que fiquem “acautelados” os interesses nacionais.

Esta intervenção das autoridades portuguesas deve ser complementada com uma acção com carácter de “urgência” junto das entidades europeias, “uma vez que a avaliação de impactes transfronteiriça do projecto não foi realizada”, sustenta a organização ambientalista, que classifica a decisão tomada pelo Governo espanhol de “inadmissível”. E acrescenta: o parecer favorável do Governo espanhol “abre a porta” a um novo prolongamento do prazo de vida da central nuclear de Almaraz, que já deveria ter encerrado em 2010.

Com efeito, esta central, que está a funcionar desde o início dos anos 1980, acabou por não encerrar na data prevista, em Junho de 2010, devido ao facto de o Governo Espanhol ter, contrariamente às anteriores intenções, prolongado o prazo de funcionamento da central por mais dez anos, até Junho de 2020.

A Quercus realça os problemas mais recentes, associados ao mau funcionamento da central nuclear. Além dos problemas mais recentes associados ao mau funcionamento da central – a existência de peças defeituosas nos seus geradores de vapor, as duas avarias nos motores das bombas de água e a falta de garantia que o sistema de arrefecimento da central possa funcionar normalmente –, os ambientalistas recordam que a central de Almaraz “tem tido outros incidentes com regularidade”, frisando a existência de situações em que “já foram medidos níveis de radioactividade superiores ao permitido.”

Para além disto, prossegue a Quercus, “Portugal não revela estar minimamente preparado” para lidar com um cenário de contaminação das águas do Tejo, pelo que a acontecer um acidente grave, isso traria certamente “sérios impactes imediatos para toda a zona fronteiriça, em especial para os distritos de Castelo Branco e Portalegre.”

A Quercus espera igualmente que o projecto de resolução sobre este assunto, aprovado por unanimidade na Assembleia da República e a “enorme jornada de mobilização ibérica” que decorreu a 11 de Junho em Cáceres, “leve de uma vez por todas a que o Governo Português abandone a passividade e a inacção” e tome a iniciativa de, junto das autoridades espanholas e europeias, solicitar esclarecimentos sobre esta situação, “exigindo” a anulação da decisão tomada, (construção do ATI) e o encerramento “imediato” da central nuclear de Almaraz.

As obras vão arrancar no início do próximo mês e vão prolongar-se por 13 meses e terão um custo de 25 milhões de euros. Deste montante cerca de 20 milhões de euros serão aplicados na aquisição de 20 contentores blindados com cinco metros de altura por 2,6 metros de diâmetro, que irão acondicionar os resíduos nucleares. Cada um destes contentores vai guardar 32 elementos de combustível consumido na central nuclear. A capacidade total dos resíduos a armazenar é de 120 toneladas. A componente de construção civil, ou seja, o edifício de armazenamento que terá uma dimensão de 51 por 20 metros, custará cerca de cinco milhões de euros.

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