É tempo de mudar comportamentos

O nível das arbitragens tem sido positivo, mas os árbitros são os primeiros a saber que há espaço para melhorar. O mesmo sucede com dirigentes e treinadores, cujo comportamento, decepcionante, precisa de ser alterado. Em 2017, o Conselho de Arbitragem vai pedir agravamento das sanções disciplinares.

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A arbitragem portuguesa tem estado debaixo de fogo NFACTOS / GONCALO DELGADO

O Conselho de Arbitragem (CA) tomou posse a 7 de Junho deste ano. Seis meses depois é tempo de prestar contas, algo que entendemos dever fazer junto dos sócios da FPF, dos clubes e também dos adeptos.

Agora que entramos em 2017, este artigo é também uma forma de partilhar a visão que temos para a arbitragem e a oportunidade para deixar um alerta.

Comecemos pelo balanço nas áreas prioritárias.

1. Nos últimos seis meses os árbitros portugueses foram nomeados para mais jogos da UEFA do que em igual período de 2015. Sendo positivo, haverá aqui ainda caminho a percorrer.

2. O CA vê todos os jogos das competições profissionais, o que lhe permite ter uma opinião global – algo que mais ninguém possui – sobre o trabalho das equipas de arbitragem. O visionamento é feito por técnicos especializados e actualizados. Globalmente, o trabalho das equipas de arbitragem tem sido positivo, apesar dos erros detectados. O nível pode e deve ser melhorado e os árbitros sabem-no. Também por isso, aumentámos o número de acções de formação contínua e melhorámos as condições de treino para os árbitros não internacionais.

3. O futebol português não pode ter só um ou dois árbitros preparados para as partidas entre as equipas que discutem a vitória nos campeonatos. É preciso dar condições e oportunidades a jovens promissores.

4. Fizemos acções de formação sobre as novas regras na quase totalidade dos clubes profissionais. No momento em que detectámos uma tendência gravosa para o futebol – o antijogo – não hesitámos em escrever aos clubes.

5. As nomeações são, por definição, públicas. Apesar disso, o CA tem partilhado informação, ajudando o público a entender os critérios.

6. Foi nomeada uma porta-voz do CA e a partilha de informação tornou-se um hábito.

7. A alteração da forma de classificação era uma ambição antiga dos árbitros. O CA aproximou-se no início desta época do sistema utilizado por UEFA e melhores Ligas da Europa.

8. O princípio da divulgação dos relatórios dos árbitros já foi aprovado pela Direcção da FPF. O tema está agora em estudo no CA, mas com a participação do Conselho de Disciplina. É um passo importante que vamos dar.

9. O CA tem participado com entusiasmo na fase de testes do vídeo-árbitro e foi com orgulho que recentemente acompanhou os árbitros portugueses que dirigiram jogos semi-live em Itália.

10. Outro dos nossos objectivos para os primeiros seis meses foi melhorar a percepção sobre o trabalho das equipas de arbitragem. Temos recebido, por esse esforço, sinais de satisfação vindos de pessoas ligadas ao futebol. Por outro lado, estamos profundamente decepcionados pela desinformação que ainda prevalece e que contamina e a todos prejudica. E é também por estes factos ocorrerem que escrevo este artigo.

A importância do diálogo

Acredito no diálogo como forma de construir. Acredito na crítica como forma de progredir. Acredito na franqueza como base de qualquer relação. Mas, infelizmente, muitos treinadores e dirigentes continuam a bater na tecla do desempenho do árbitro para explicar derrotas ou empates frustrantes. Este tipo de discurso pode levar a crer que a arbitragem portuguesa é medíocre. Quem, como nós, analisa o trabalho dos árbitros em todos os jogos, sabe que não é assim.

Aos árbitros cabe serem rigorosos, isentos, competentes. Não são infalíveis. O futebol português, no país campeão da Europa, já não está no ponto de aceitar as desculpas antigas e tão gastas de “a culpa foi do árbitro”

Falhas pontuais das equipas de arbitragem podem gerar críticas pontuais.

O que já não é aceitável é que se continue a justificar falhas de objectivos desportivos com decisões dos árbitros.

O sector da arbitragem não aceita esse estigma.

Face ao tom das declarações sobre arbitragem, tomei a iniciativa de escrever ao presidente da Liga, Pedro Proença, manifestando a nossa profunda preocupação. Exigimos que a defesa do futebol profissional passe pela salvaguarda de todos os agentes desportivos. Todos, sublinho.

Em 2017 não vamos permitir que a dignidade e a honra dos árbitros seja colocada em causa.

Em 2017, quem passar essa linha terá de ser responsabilizado. Não duvidem: da nossa parte tudo faremos para que assim seja, na defesa dos árbitros, da arbitragem e do futebol português.

O Conselho de Disciplina da FPF tem vindo a trabalhar no sentido de ter instrumentos cada vez mais eficazes para assegurar a responsabilidade disciplinar de quem prestar declarações ofensivas para os árbitros. É um sinal que muito saudamos.

Pela parte do CA podem contar com novas propostas para o quadro disciplinar relacionadas com ofensas e com o levantamento de suspeitas da conduta dos árbitros.

Não teremos receio de sugerir o agravamento das sanções, mas preferimos evitá-las. A aposta de todos deve ser, por isso, a pedagogia e a formação.

Pelo nosso lado, temos perfeita consciência do que ainda tem de ser feito para tornar a arbitragem portuguesa mais competente e reafirmamos a importância do diálogo com todos os agentes desportivos.

2016 foi um ano fantástico para o futebol português. 2017 tem tudo para voltar a sê-lo.

Com maior sentido de responsabilidade, pode até ser um ano exemplar no respeito e no bom relacionamento.

Ganha o futebol português e ganhamos, com isso, todos nós.

Presidente do Conselho de Arbitragem da FPF

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