Como comer em casa

“Há quase uma guerra declarada à pequena produção” diz o título da reportagem de Ana Cristina Pereira no PÚBLICO. O “quase” está ali porque à guerra - apesar de ser travada com cada vez maior prepotência, insensibilidade e ignorância - só falta, de facto, ser
declarada. Até por ser, tragicamente, inintencional.

Que a guerra é verdadeira e tem efeitos desastrosos sei eu ou qualquer pessoa que fale com pequenos produtores ou, mais triste ainda, ex-produtores ou potenciais produtores que desistiram por causa de estúpidas exigências burocráticas ou medo das consequências, por boatos e falta de informação.

A guerra contra a pequena produção está praticamente ganha e a prova é que já são poucos os pequenos produtores que se atrevem a sobreviver. Quem ganha com esta guerra? Ninguém. Não há nenhum grande produtor que nbeneficie dela. São mercados diferentes, com agentes, públicos, práticas e dimensões diferentes.

Quem perde com esta guerra? Toda a gente. Os pequenos produtores não são apenas “a memória” ou “a tradição” ou a “acumulação de saberes ancestrais”. Os pequenos produtores são o agora, as tangerinas deliciosas que seguro nas minhas mãos, e são o futuro imediato, as novas nabiças do Norte quase prontas, plantadas este ano pela primeira
vez.

Os pequenos produtores são laboratórios e são escolas onde crianças e adultos podem falar com quem lhes trouxe as coisas boas que provaram. São famílias que nos oferecem o tesouro que são produtos familiares. São a nossa casa.

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