O "raspanete" que Frank Sinatra deu a George Michael

Em 1990, o cantor de Faith disse que não se dava bem com a fama e que tinha optado por ser discreto. "A Voz" respondeu-lhe.

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AFP/EPA

George Michael, então com 27 anos, tinha acabado de lançar o seu segundo álbum de estúdio, Listen Without Prejudice, Vol 1, quando disse numa entrevista à revista Los Angeles Times’s Calendar que não se dava bem com o protagonismo – e que, por isso, as entrevistas iriam ser escassas, e os videoclips e as digressões inexistentes. Corria o ano de 1990 e a sua carreira como estrela pop global ainda nem ia a meio. Mas há muito que o sucesso e a fama faziam parte da rotina do fundador dos Wham!, que morreu neste domingo.

Frank Sinatra não gostou das declarações de George Michael e deu um “raspanete” ao músico britânico, deixando-lhe também alguns conselhos. O gigante da música norte-americana escreveu uma carta dirigida à mesma revista, que a publicou uma semana depois da entrevista a George Michael. Em 2010, o site Letters of Note republicou o texto escrito por Sinatra, que aqui se traduz na íntegra.

Queridos amigos,

Quando vi a vossa capa de hoje sobre George Michael, "a estrela pop relutante", a minha primeira reacção foi a que ele deveria agradecer ao Senhor todas as manhãs quando acorda por tudo o que tem. E isso faria com que fôssemos dois a agradecer a Deus todas as manhãs por tudo o que temos.

Não percebo alguém que vive "na esperança de reduzir a pressão do seu status de celebridade". Aqui está um miúdo que "queria ser uma estrela pop desde que tinha cerca de sete anos de idade". E agora que é um perfomer de sucesso e um compositor aos 27 anos, quer desistir de fazer o mesmo por que toneladas de jovens talentosos em todo mundo matariam a avó – apenas um pedaço do que ele agora se queixa.

Va lá George, relaxa. Swing, homem. Limpa as teias de aranha nas asas e voa até à lua da tua escolha e agradece por carregar a bagagem que nós todos tivemos de carregar desde aquelas noites sem dormir em autocarros a ajudar o motorista a descarregar os instrumentos.

E chega da conversa sobre a "tragédia da fama". A tragédia da fama é quando ninguém aparece e tu estás a cantar para a empregada de limpeza nalgum lugar vazio que não vê um cliente desde o dia de Saint Swithin [lenda associada ao bispo de Winchester na Idade Média]. E tu não estás sequer próximo disso; tu estás no topo de uma escada alta que se chama Estrelato, que em latim significa agradecimentos-aos-fãs que estavam lá quando tudo era solitário.

O talento não pode ser desperdiçado. Aqueles que o têm – e tu obviamente que o tens ou então a capa da Calendar de hoje era sobre o Rudy Vallee [cantor e actor americano considerado o primeiro ídolo pop dos adolescentes] – aqueles que têm talento têm de o abraçar, alimentar e partilhar para que não te seja roubado tão rapidamente quanto te foi emprestado.

Confia em mim. Eu já lá estive.
 

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