Edgar Martins em Guimarães, Manuela Marques em Lisboa e Herb Ritts em Cascais

Três exposições de fotografia que vamos ver em 2017.

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Stephanie, Cindy, Christy, Tatjana, Naomi, Hollywood 1989 © Herb Ritts Foundation
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Alek Wek, Los Angeles 1998 © Herb Ritts Foundation
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Espace 3. Da série Versailles: A face escondida do sol Manuela Marques (Cortesia da artista)
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Verre 2. Da série Versailles: A face escondida do sol Manuela Marques
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Carta de despedida: tentativa de suicídio de Indivíduo do sexo feminino, por arma de fogo, Portugal, Junho 2011. a série Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios © Edgar Martins (www.edgarmartins.com)
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Sem título. Da série Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios © Edgar Martins (www.edgarmartins.com)

O calendário expositivo do próximo ano relacionado com fotografia começa a revelar-se. Há propostas de universos criativos muito díspares (o que é salutar) e que tanto olham para o legado que ajudou a formar a história da fotografia do século XX (Herb Ritts), como para a produção contemporânea portuguesa dentro de portas (Edgar Martins) ou fora delas (Manuela Marques).

O ano começa com uma exposição de Edgar Martins (Évora, 1977) no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (28 de Janeiro), que promete um mergulho mais profundo num trabalho já mostrado parcialmente no MAAT e na Galeria Cristina Guerra, ambos em Lisboa. Destinerrância —  O lugar do morto é o lugar da fotografia (até 4 de Junho) dá seguimento a uma reflexão sobre o papel da fotografia no mapeamento e relação com a morte (hoje cada vez mais distante dos olhares, transformada num lugar higiénico e secreto). O ensaio de Edgar Martins parte de uma investigação levada a cabo nos arquivos do Instituto de Medicina Legal, a instituição que tem jurisdição sobre o corpo depois da morte. Uma nota do CIAJG promete uma exposição “poderosa e, por vezes, chocante” acerca “do poder da imagem fotográfica e gráfica para reter a memória de um corpo que transpôs ou está prestes a transpor a fronteira que separa a vida da morte, a respiração da petrificação”. Este corpo de trabalho erguido pelo artista, que até aqui se tinha concentrado mais na força latente das paisagens e dos lugares, junta imagens de arquivo (fotografias, desenhos e outros documentos gráficos) e fotografias da sua autoria.  

Na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, ainda no primeiro trimestre de 2017, a 3 de Março, a artista luso descendente Manuela Marques (a viver e a trabalhar em Paris) mostra Versailles: A face escondida do sol, uma série inédita de fotografias criadas durante dois anos de visitas regulares ao Palácio de Versalhes. O conjunto, que também já teve uma primeira amostra na exposição O tamanho deste vento é um triângulo na água (Gulbenkian, Paris, 2014), permite um acesso privilegiado aos recantos e paisagens interiores de um monumento simbólico na história e imaginário europeus. A carta-branca que foi dada à artista para entrar no palácio quando os milhares de visitantes já lá não estão permitiu um olhar raro sobre um lugar hiper-ritualizado e sobreexposto, um olhar que procurou num espaço gigante as pequenas feridas, as lesões e as marcas do uso (média de oito milhões de visitantes por ano) e do tempo. “Não são fotografias espectaculares. De qualquer maneira eu também raramente estou no espectacular”, disse a artista ao PÚBLICO, por ocasião da exposição em Paris. Para Versailles: A face escondida do sol (até 22 de Maio, com curadoria de João Carvalho Dias e Nuno Vassalo e Silva) Manuela Marques (Tondela, 1959) preparou ainda “um diálogo com obras da colecção do fundador que têm como origem ou como contexto histórico, ainda que alargado, o Palácio de Versalhes”.

Mais para o fim do ano, a 8 de Setembro, no Centro Cultural de Cascais é inaugurada uma antológica de Herb Ritts (Los Angeles, 1952-2002), um dos mais reputados nomes da fotografia de moda e estilo do final do século XX, responsável, entre outros, pelo movimento que, nos anos 1990, colocou as modelos no centro da criação de alta-costura, que levou à era das supermodelos como Cindy Crawford, Naomi Campbell ou Christy Turlington. Na obra de Ritts, a exaltação do corpo, do rosto e da forma e a procura da beleza apolínea, descendente da escultura clássica, são caminhos para se chegar a uma materialidade fotográfica consequente e não apenas uma colecção de estatuária viva. Herb Ritts —  Fotografia levará a Cascais mais de 100 imagens de um criador muito influente que, na transição dos anos 80 para os 90, se destacou noutras disciplinas da imagem, como nos anúncios publicitários ou videoclips. Para além de colaborações com uma miríade de revistas ligadas à música, ao estilo e à moda, Ritts —  que começou a carreira graças a um furo num pneu e às fotografias que tirou ao seu amigo Richard Gere enquanto esperavam pelo conserto —  foi um dos mais disputados fotógrafos de celebridades ligadas ao cinema americano e à cultura pop-rock. Fotografou para capas de discos de sucesso planetário (Olivia Newton-John, Madonna...) e criou campanhas de publicidade que ajudaram a forjar identidades de marcas que ainda hoje perduram (Calvin Klein). Será um dos momentos-chave do programa expositivo português, pouco dado a visitas de nomes que marcaram a história da fotografia, como é inquestionavelmente o exemplo de Herb Ritts.

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