O Pai Natal está a passar por uma onda de calor no Pólo Norte e a culpa é nossa

O Árctico está a ter ondas de calor recordes no Inverno também, o que mostra que as novas tendências das alterações climáticas estão aqui para ficar.

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O glacirar de Kronebreen, no arquipélago de Svalbard, na Noruega: há cada vez menos gelo no Árctico DOMINIQUE FAGET/AFP

Este ano, o Pai Natal pode ter de trocar o fato vermelho invernoso por uns calções e uma t-shirt, porque neste Natal o Árctico está a viver uma onda de calor que bate todos os recordes: as temperaturas estão pelo menos 20 graus Celsius acima do normal. Em algumas zonas, estão apenas zero graus – o limiar do degelo.

Durante os meses de Novembro e Dezembro, as temperaturas estiveram sempre cinco graus Celsius mais altas do que a média, depois de um Verão em que o gelo do Árctico se reduziu ao segundo nível mais baixo alguma vez registado deste que os satélites vêem a Terra dos céus, num ano em que houve o fenómeno climático El Niño.

Mas esta onda de calor, no início do Natal, é mesmo assim algo inesperado, e tem uma indelével assinatura humana.

Antes da revolução industrial do século XIX, e de a humanidade começar a atirar para a atmosfera dióxido de carbono, que potencia o efeito de estufa, “uma onda de calor como esta seria extremamente rara – algo que se poderia esperar de mil em mil anos”, explicou à BBC Friederike Otto, investigadora no Instituto de Alterações Climáticas da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

As observações e modelos usados pelos cientistas apontam sempre para o efeito humano. “Não conseguimos modelar uma onda de calor como esta sem ter um efeito antropogénico”, assegurou Otto.

A causa directa desta onda de calor parece ser uma tempestade que se formou a Leste da Gronelândia, que transportou ar anormalmente quente para Norte, que fez com que se perdesse uma grande quantidade de gelo no mar, numa altura em que o normal é estar-se a formar mais gelo, diz o Washington Post. O Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA tem informação que mostra que o Árctico perdeu cerca de 148 mil km2 de gelo só na quinta-feira – um pouco menos que as dimensões do Reino Unido. No entanto, estes dados são ainda preliminares.

Mas a subida da temperatura no Árctico, e o papel da actividade humana nessa elevação, é algo que está já bem estudado. O ano de 2016 é o mais quente desde que há registo no Pólo Norte, de acordo com o relatório anual da Agência norte-americana para os Oceanos e a Atmosfera (NOOA) sobre o Árctico, divulgado em meados deste mês. Na verdade, a temperatura no topo do mundo está a subir ao dobro do ritmo do resto do planeta.

“Entre Janeiro e Setembro de 2016, a temperatura à superfície no Árctico foi, de longe, a mais alta observada desde 1900”, disse Jeremy Mathis, que dirige o programa de investigação sobre o Árctico da NOOA, citado pelo Washington Post. E os picos de calor já nem sequer são atingidos apenas no Verão: “Houve pontos altos de temperatura em Janeiro, Fevereiro, Outubro e Novembro de 2016. Os recordes de temperatura são batidos também no Inverno. O que estamos a ver é um calor persistente, que dura todo o ano, o que indica que estas tendências estão para ficar.”

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