A festa vai boa. A conta mais ou menos

Ainda não há decisão final sobre o Novo Banco, mas há um bom gestor. Já temos o défice controlado, mas as contas não sabemos bem. A sorte é que este ano já está a acabar.

Falta a decisão do Novo Banco, faltam dados sobre os lesados. Mas há folga para o défice, vindo de onde o Governo dizia que não viria. E uma conta que sobe, para lá do que devia. A semana não foi muito natalícia, mas é tempo de lhe desejar festas felizes. Vamos só ao balanço?

António Ramalho
Presidente do Novo Banco
14

Não será um nome muito conhecido do grande público, mas da Infra-Estruturas de Portugal ao Novo Banco o gestor vai dando provas de competência. Esta semana, enquanto o Banco de Portugal e o Governo não desembrulham o problema da venda do banco, Ramalho deu duas boas notícias à dupla Costa & Costa (Carlos e António): antecipou em um mês o pagamento ao Estado português de 1.700 milhões de euros em obrigações sénior; e viu a DBRS a aliviar a perspectiva de crédito sobre a instituição. Não é só arrumar os cantos à casa. Qualquer uma das duas notícias valoriza o banco e torna um pouco mais fácil a decisão de venda - e o problema a quem o comprar. 

Rocha Andrade
Secretário de Estado da Administração Fiscal
14

Falando em créditos, eis o homem do Fisco. Rocha Andrade foi apanhado na foto errada, quando a meio do Verão foi a Paris a convite da Galp, ver a seleção nacional jogar, mas seguiu em frente. Foi apanhado num turbilhão aquando da preparação do Orçamento, porque só se falava em impostos - e seguiu em frente. E não passou sem críticas quando lançou um perdão fiscal, a que o Governo teimou em não chamar perdão porque o Governo tem um problema com palavras difíceis. A perseverança, de todo o modo, deu créditos a Rocha Andrade: aquilo que estimava oficialmente ser uma receita de 100 milhões já passou os 400. E com isso o secretário de Estado ganha a medalha do homem que resolveu o défice deste ano.

Carlos Alexandre
Juiz
10

O homem que sabe mais segredos da nossa República salvou-se por um voto, na decisão do Conselho Superior da Magistratura sobre a entrevista que decidiu dar à SIC há uns meses, mas levou um puxão de orelhas justificado pelas “expressões pouco felizes” que ali usou. A margem mínima não lhe dá, portanto, grande conforto nem margem de manobra para novas investidas. Também já não é tempo: a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, fixou o que parece ser um timing final para a apresentação de uma acusação contra José Sócrates: até Março, ou vai, ou cai. E aí sim, faremos a avaliação sobre o mais sensível dos processos que conduz.

Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República

A expressão “não há festa nem festança sem a Dona Constança” colou-se a Marcelo - e isso não lhe fica mal. Mas já colar-se a funerais já é um bocadinho demais. Bem sei, a Cornucópia é uma instituição que temos pena de perder (mesmo a quem nunca lá foi). E o público da Cornucópia, assim com os que pisaram aquele palco, são precisamente os que Marcelo mais procura agradar por estes dias, na sua maratona pelos 100% de popularidade. Mas sugerir ao vivo e em directo que se estude uma excepção para um teatro é um bocado ir longe demais. Ok: a Cultura será uma excepção no que respeita ao mercado livre - e isso, sendo discutível, é largamente consensual em Portugal. Já abrir uma excepção dentro de uma excepção abriria uma caixa de Pandora que nem o mais hábil ministro da “geringonça” conseguiria controlar. Vá lá, sr. Presidente, 99% de popularidade chegam, pode ser?

António Costa
Primeiro-ministro
9

A propósito do ministro mais hábil da geringonça, o Primeiro, também não esteve na sua semana mais feliz. O pagamento aos lesados do papel comercial já é discutível, mas sempre se aceita que Costa se comprometeu com eles na campanha, pelo que o acordo faz sentido. A conferência de imprensa onde não se explica o acordo nem se distribui o memorando é também estranha. Mas já a formulação que usou para dizer que não nos preocupássemos com a conta foi um exercício de ilusão. “Conseguimos uma solução que garante aos contribuintes que não terão de assegurar, com o seu esforço financeiro, uma ultrapassagem desta situação”. Talvez não hoje, mas o resto não é bem assim - como diz o estudo da Católica que o próprio Governo encomendou e que ainda não mostrou. Custa assim tanto dizer que qualquer solução podia ter sempre custos para o Estado? 

João Matos Fernandes
Ministro do Ambiente
7

O Governo chegou com a decisão tomada: ia anular a entrega dos transportes públicos a privados, desde a TAP à Carris, passando pela CP. Garantiu que não teria que pagar indemnizações, mesmo que as decisões estivessem tomadas por um Governo legítimo e democrático. António Costa até disse que a função das empresas não era dar lucro, mas levar as pessoas. Até aqui, siga a marinha. O problema (outra vez) é quando chegam as contas. E esta semana chegou a primeira, relativa ao primeiro semestre: prejuízos 33% acima do previsto. Assinale no calendário: isto foi quando o Metro (90% acima dos prejuízos estimados) não tinha bilhetes suficientes para vender. 

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