Negociações entre PSD e CDS para Lisboa podem ter desfecho já em Janeiro

Sociais-democratas temem ficar humilhados na composição das listas. Carlos Encarnação pede um congresso extraordinário.

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Morais Sarmento com Passos em 2014, no XXXV Congresso do PSD Miguel Manso

As negociações entre o PSD e o CDS para uma coligação em Lisboa poderão estar finalizadas no início de Janeiro, apurou o PÚBLICO. O CDS tem uma comissão política nacional prevista para o início do próximo mês e Assunção Cristas já poderá apresentar aí a solução acordada, até porque as eleições autárquicas devem constar da ordem de trabalhos.

É também no início de 2017 – dia 4 de Janeiro – que se reúne a comissão política da concelhia do PSD em Lisboa, para tentar formalizar uma posição sobre o apoio a Assunção Cristas, depois de o vice-presidente da estrutura, Rodrigo Gonçalves, defender fortemente que o partido não abdique de ter um candidato próprio. Na mesma altura, o CDS já poderá estar a debater o acordo em Lisboa, já que na última comissão política, em Novembro, a questão das autárquicas ficou adiada para nova reunião, prevista para dia 5 de Janeiro.

As negociações sobre uma coligação com o CDS para a capital continuam a perturbar o PSD. Os sociais-democratas receiam ficar numa posição humilhante nas listas aos órgãos autárquicos – câmara, assembleia municipal e juntas –, mas, ao que o PÚBLICO apurou, o acordo final não deverá ficar muito diferente do assinado em 2013. Só que desta vez a cabeça de lista à câmara é a líder do CDS, enquanto a assembleia municipal ficará para o PSD.

Num momento em que está a ser desenhada uma solução para Lisboa, o ex-ministro de Durão Barroso Nuno Morais Sarmento veio admitir que estaria mais motivado para eleições para a câmara do que para a liderança do partido. Em declarações no programa Falar Claro, da Rádio Renascença, Morais Sarmento ressalvou, no entanto, que avançar agora para Lisboa é “difícil” e que “o PSD o tornou praticamente impossível". Impossível, no entanto, não será uma candidatura à liderança do partido. Morais Sarmento não exclui esse cenário, apesar de assegurar que as suas “circunstâncias pessoais e profissionais” são “contrárias” a um compromisso político continuado. O regresso de figuras como Morais Sarmento ao partido foi defendido, esta semana, pelo vice-presidente da concelhia de Lisboa, num artigo de opinião publicado no PÚBLICO.

Congresso extraordinário?

Uma voz que se levantou contra a liderança de Passos Coelho foi a do ex-presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Encarnação. Em entrevista à Antena 1, o ex-deputado defendeu que o líder deveria reflectir sobre o seu papel à frente do PSD, reunir os órgãos e sugeriu que essa acção “provavelmente acabaria por ser um congresso extraordinário”.  

Uma reunião magna – ainda que não electiva – adivinha-se improvável, segundo dirigentes sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO. Para já, seriam necessárias 2500 assinaturas para convocar um congresso extraordinário. Há quem não veja utilidade nessa iniciativa de debate interno sem eleições directas. E a realização dessas eleições levaria a que o calendário coincidisse com a véspera das autárquicas.

Apesar da contestação à solução que está a ser negociada em Lisboa, muitos dos dirigentes sociais-democratas mantêm-se fiéis à liderança de Passos Coelho, por considerarem que o partido ainda tem uma dívida de gratidão para com o líder, por este ter ganhado as eleições legislativas. Por outro lado, também não estão convencidos de que haja, neste momento, uma figura alternativa capaz de o derrotar em eleições internas.

Não fazer "o que Costa fez a Seguro"

O ex-ministro da Defesa José Pedro Aguiar-Branco foi uma das (poucas) vozes que sairam em defesa de Passos Coelho. Em entrevista à RTP2 na passada quarta-feira, o social-democrata considerou que este não é o momento de discutir a liderança do PSD. Recusando responder directamente se será candidato a líder do PSD – como já aconteceu em 2010 contra Passos Coelho –, o deputado quis distanciar a situação no partido com o que se passou no PS. “Não fazemos o que António Costa fez a Seguro e a que se pode chamar uma traição”, afirmou.

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