Minsheng propõe aplicar dinheiro no Novo Banco em duas tranches

Responsáveis do China Minsheng estiveram esta semana no Banco de Portugal para encontrar uma solução com o apoio da Haitong e que ajude a ultrapassar os obstáculos à saida de fundos da China para pagar o Novo Banco

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Guilherme marques

Os dirigentes do China Minsheng têm estado em Lisboa a negociar com as autoridades nacionais a apresentação em duas tranches da garantia bancária exigida pelo Banco de Portugal e que é uma condição de aquisição do controlo do Novo Banco. Esta garantia serve como prova de que o grupo asiático dispõe de fundos para pagar o investimento associado à operação. 

Foi neste contexto que, nos últimos dias, o China Minsheng manteve conversações com o Haitong Bank (ex-BESI) no sentido do banco de investimento poder avançar com um empréstimo ponte. Uma informação que o Haitong Bank não quis comentar ao PÚBLICO por estar em causa uma relação com um cliente. Mas fontes do sector financeiro explicaram que a instituição, liderada desde este mês por Hiroki Miyazato, solicitou tempo para responder ao pedido de apoio do China Minsheng, podendo a resposta chegar ainda este mês.

Uma das condições do “concurso” de venda do Novo Banco é a de que o futuro dono apresente junto do BdP, a autoridade de resolução, uma declaração legal de que tem os meios financeiros para financiar a sua proposta (que envolve uma injecção de 750 milhões de euros de capital no Novo Banco, que dará o controlo de 50% das acções). Uma vez que a China está a impor restrições às saídas de capital do país, o China Minsheng não tem conseguido cumprir o requisito. E para ganhar fôlego pediu para poder “pagar” ao Fundo de Resolução em duas fases, o que depende da disponibilidade do Haitong Bank em facultar a primeira tranche.  

Foi neste contexto que esta semana aceleraram as movimentações que trouxeram a Portugal  dirigentes do Minsheng que em Lisboa mantiveram contactos ao mais alto nível. O Novo Banco pertence ao Fundo de Resolução, que em Agosto de 2014 injectou 4.900 milhões na instituição, 3.900 milhões com empréstimo estatal. E cabe ao Governo a última palavra, mediante consulta ao BCE.

Após ter falhado a primeira tentativa de alienação, por ausência de ofertas firmes, o BdP delegou em Sérgio Monteiro a tarefa de colocar no mercado pela segunda vez a instituição liderada por António Ramalho.

O ex-secretário de Estado de Pedro Passos Coelho tem pela frente duas propostas vinculativas: a da China Minsheng e a do fundo norte-americano Lone Star. As duas que o Fundo de Resolução, onde o Governo se faz representar, considerou serem as mais interessantes. Note-se que a oferta da Apollo foi considerada quase inaceitável e o BCP e o BPI não avançaram.

Tal como a proposta da China Minsheng também a do fundo norte-americano lida com obstáculos, apesar do seu envelope financeiro ser o mais convidativo, na medida em que o valor inscrito é mais elevado e a verba é paga à cabeça. Mas só o é aparentemente. Para reduzir a incerteza de um eventual “buraco” a cobrir futuramente, o Lone Star exige uma protecção: uma contragarantia pública sobre cerca de 2.000 a 2.500 milhões de euros da carteira de 8.000 milhões que está destinada a ser vendida. Ou seja: se esta condição for aceite, e a confirmar-se uma desvalorização, os contribuintes teriam de devolver o diferencial ao fundo norte-americano.

O Banco de Portugal tem vindo a ajustar a agenda da operação de venda do Novo Banco em função das necessidades dos concorrentes e das barreiras que vão enfrentando. Dificuldades que podem atrasar ou, mesmo dificultar, o fecho do dossier que as autoridades estão empenhadas, ainda assim, a dar por concluído na próxima semana.

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