É muito Inverno

Pode ser Inverno mas os dias são cada vez mais compridos: este parece-me ser um dos acordos mais bem feitos da natureza. Imagine-se que os dias se tornassem agora mais curtos. Seria inaceitável.

Deambulando pelo sol destes dias é difícil resistir à precipitição lunática do pessoal das praias. Para eles está quase: o Natal quase que passou, idem o Ano Novo. Depois é o carnaval, seguido pela Primavera e, não tarda nada, já se está na Páscoa, a partir da qual recomeça a época de banhos.

Eles dividem o ano em duas estações: o Inverno (do qual só faltam três meses) e o Verão, cujos seis gloriosos meses ainda nos estão reservados na íntegra. No princípio do outono estavam deprimidos. Agora estão animados: só falta meio-caminho.

O pessoal de terra é mais realista. Os seis meses de Verão começam em Maio e acabam no fim de Outubro. O Inverno dura de Novembro até Abril. Mas, mesmo para eles, quando chegar o dia 1 de Janeiro só faltam quatro
meses para ser Maio. Ou seja: um terço do Inverno já está despachado.

Por outro lado, ninguém considera Janeiro e Fevereiro meteorologicamente abençoados. São os dois piores meses - os mais frios e molhados - do ano. E são eles que nos esperam, a ver quanto nos conseguem morder.

Se os dias serão um pouco mais longos, ocorre logo perguntar: mas que dias? E com quanto calor e luz e conforto de secura? Depois pensa-se nas noites e agradece-se serem mais curtas, mesmo quando elas se
confundem com os dias. A verdade é que não há maneira boa de se olhar para isto.

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