"Tenho na vida um horror enorme em ser injusto"

Jardim está a escrever um livro de memórias para ser publicado em Fevereiro e Março.

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Jardim não votou em Albuquerque nas eleições internas do PSD-Madeira Daniel Rocha

Como vê de fora este governo do PSD-Madeira?
Você ainda não me viu até agora falar publicamente do governo daqui. Naturalmente que troca as minhas impressões em privado, mas não me ouviu ainda falar nem para o bem, nem para o mal. Sabe porquê? Eu sabia, quando estava no governo, que às vezes determinadas apreciações pecavam por falta de informação e ao pecar por falta de informação tornavam-se injustas, e eu tenho na vida um horror enorme em ser injusto. Qualquer posição minha poderia ser mal interpretada. Ou como uma rendição, ou como o querer manter uma oposição, porque toda a gente sabe que a actual solução do PSD-Madeira não teve o meu apoio.

E hoje, um ano depois de Miguel Albuquerque ter tomado posse, continua a não se rever no PSD-Madeira?
Olhe, eu não votei nas últimas eleições internas, que foram há poucos dias, e isso diz tudo. Mas a minha boca ficou calada, não fiz qualquer observação.

Está magoado?
Aqui na Madeira não. Estar magoado significa dar importância. Fizeram-me algumas, um dia ei-de contá-las. Passaram-se coisas muito esquisitas, algumas das quais eu conto no meu livro que deverá sair à estampa em Fevereiro ou Março.

Já está pronto.
Está entregue à editora. O título não digo sem autorização da editora. Não são bem memórias ou recordações. Conta a minha visão sobre a história da Madeira. Não tem discursos nem artigos meus – às vezes vejo aí livros de memórias que é só discursos e artigos, uma coisa enfadonha. Quem quiser que vá procurar os discursos aos arquivos. Neste momento eu entreguei 1640 páginas A4 à editora. O livro é uma narração desde a manhã do 25 de Abril de 1974 até eu me vir embora da política, mas que conta muitas coisas, histórias, é mais um livro de um jornalista do que de um governante. Do jornalista que eu também fui. Conta muitas histórias, algumas as pessoas desconhecem. É um livro que procura atrair a leitura e não chatear ninguém.  

Fala do seu estilo político, da forma como confrontou adversários políticos?
Sim, sim. Não me escondo. Conto isso tudo e explico porquê, e porque depois fizemos as pazes.

Admite que possa ter ido longe de mais em alguns casos?
Só num é que eu admito que fui um bocado violento. Já o disse antes. Foi quando um dia no Chão da Lagoa – está a ver que eu estou a rir-me a contar isto –, falei do engenheiro Guterres e a banda que me acompanhava nos comícios começa a tocar a ‘Mula da Cooperativa’. Começou toda a gente a cantar a ‘Mula da Cooperativa’. Foi um pedacinho forçado. Embora ele me tenha feito umas patifarias, devo dizer que merece estar no lugar onde está.

Ficou satisfeito com a eleição para Secretário-Geral da ONU?
Como político e como português. Acho uma justiça. Merece aquele lugar

 

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