Num mercado tão promissor, o desafio agora é resistir à crise

“Tem havido negociações entre Portugal e Moçambique para reduzir as taxas a que as matérias-primas têm estado sujeitas”, mas ainda sem sucesso, diz o responsável da Sumol+Compal

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Falta de matérias primas dificulta a produção em Moçambique Manuel Roberto
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Devido à desvalorização da moeda moçambicana, o metical, é mais difícil fazer frente aos gastos Manuel Roberto

Além da inexistência de matérias-primas locais, a outra face da moeda da dependência externa é bem visível num dos armazéns grossistas onde a Sumol+Compal mais vende. Há produtos de muitos países, principalmente sul-africanos, e Moçambique é um protagonista demasiado tímido nas prateleiras. Este mercado em particular não foge à regra. Mesmo com uma quota de mercado importante, o grupo português não é líder. Esse estatuto pertence a uma empresa da África do Sul, a Ceres, com 50%, que produz tudo fora.

Fernando Oliveira conta que chegou a haver mais investimento na produção em território moçambicano, mas entre os que desistiram e os que adiaram os planos por causa da crise, pouco sobrou. Resta um grande concorrente, a Santal, marca que pertence aos italianos da Parlamat. O país vive hoje numa profunda instabilidade económica e financeira, deixada ainda mais a descoberto pelo escândalo em redor da dívida pública que levou o grupo de dadores a suspender os apoios ao orçamento. Para as empresas que resistem, os custos têm sido mais que muitos.

Fruta da desvalorização do metical, “houve um aumento grande dos gastos. Tentamos ir adaptando a tabela de preços, mas nunca conseguimos compensar por inteiro esse aumento porque não há consumo que chegue. As margens [de lucro] já foram muito melhores”, explica Fernando Oliveira. Por outro lado, “há muita dificuldade em obter divisas” e em fazer descer os impostos para os produtos que tenham valor acrescentado. “Tem havido negociações entre Portugal e Moçambique para reduzir as taxas a que as matérias-primas têm estado sujeitas”, mas ainda sem sucesso, diz.

Por tudo isto, “está a ser muito mais caro produzir em Moçambique do que em Portugal”. A vantagem em ter dado este passo está lá bem mais à frente. “É uma estratégia a longo prazo. Primeiro tivemos de ter uma base sólida de exportações para que se justificasse ter uma fábrica no país. E agora temos de estar aqui porque nos vai compensar mais tarde. Temos de ser cada vez mais locais. Todos os consumidores, todos os mercados são diferentes”.

É por isso que o grupo não tem parado de fazer investimentos, embora sempre muito calculados. E não é a única empresa portuguesa em contra-ciclo. A Sonae acaba de se lançar em Moçambique, com a compra de dois supermecados que pertenciam à cadeia Extra. Uma expansão da qual a Sumol+Compal também retirará necessariamente benefícios, já que significa um passo importante para que as vendas passem a depender cada vez mais do mercado organizado.

O segredo é ser paciente com um país cujo potencial está mais do que confirmado, mas que tarda em dar frutos. “O PIB é 12 vezes mais pequeno do que o português, mas o mercado não é certamente 12 vezes mais pequeno. Um dos grandes problemas é a forma como a riqueza está distribuída. Há grupos com um elevado poder de compra e milhões na pobreza”, sintetiza Fernando Oliveira.

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