“Não fazemos escolhas. Temos os alunos que Deus nos dá”

Estabilidade do corpo docente e motivação dos alunos revelaram-se decisivas para um projecto de ensino que se propõe formar “cidadãos do mundo”, mas sem esquecer que as suas raízes são alentejanas.

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Nuno Ferreira Santos
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Nos cafés, praças e ruas de Beja, por telemóvel, através do Facebook ou das rádios locais, a mensagem difundia-se no início da semana, com expressões de “orgulho” que não se disfarçavam. A escola que já foi industrial e comercial tinha passado à frente de “um porradão de umas quantas”, ouviu-se num comentário à porta do talho do Veríssimo. E este dado era algo nunca visto na região. “Só ouvíamos falar de escolas mal classificadas, com turmas ruins, falta de professores e de funcionários, fraco aproveitamento escolar”, comparou um antigo aluno da escola que agora a vê “no topo”.

No ranking do PÚBLICO, a Escola Secundária D. Manuel I ocupa o 32.º lugar num universo superior a mil estabelecimentos de ensino, com base nos exames de Matemática e Português do 9.º ano. É a primeira escola pública nesta listagem. Acresce que 74,2% dos alunos do 3.º ciclo não chumbaram no 7.º, 8.º e exames do 9.º ano, o que lhe dá a 7.ª posição a nível nacional.

“Não fazemos milagres nem escolhas. Temos os alunos que Deus nos dá”, realçou ao PÚBLICO Maria José Chagas, directora do agrupamento de escolas n.º 2 de Beja, de que faz parte a secundária D. Manuel I. Assinala que há dois factores que também “têm o seu peso no ranking: o grau de dificuldade dos exames e o empenhamento dos alunos”.

“Fomos bem preparados, aprendemos muito. Os professores foram importantes para alcançarmos boas notas”, afirma Teresa Palma, uma das alunas que frequentaram o 9.º ano em 2015/2016. Destaca ainda “o ambiente saudável que se vive na escola”, diz que é uma “zona livre de bullying”, acrescentando que nos conflitos entre colegas, “que os há, não se recorre à violência”.

João Gouga partilha da satisfação da colega. “Nos exames, senti-me bem preparado e até foram superfáceis”, recorda. Por seu turno, Igor Águas diz ser muito bom saber que a escola se destaca entre muitas. “Normalmente não falam de coisas positivas quando se referem à nossa terra”, comenta.

Já Mariana Figueira é menos assertiva no desempenho dos professores, frisando que apenas lhe bastou “estudar na semana antes dos exames para ter boa notas”, mas também diz o seguinte: “É um orgulho para nós que uma escola do interior tenha conseguido ficar bem classificada no ranking.”

Manuel Coelho, aluno do 11.º ano e presidente da associação de estudantes, afirma que o mérito para chegar aos resultados do ranking “é em primeiro lugar dos alunos e dos professores e até pode contribuir para estimular os jovens a ficar pelo Alentejo, pela boa imagem que dá da região”.

Alunos e professores empenhados

Os resultados acontecem porque temos “alunos empenhados, pais atentos e corpo docente estável e dedicado”, acrescenta Maria José Chagas, frisando, contudo, que a dedicação dos alunos não nasce espontaneamente. “Precisamos de investir muito nas actividades curriculares e extracurriculares”, como conferências sobre projectos científicos e tecnológicos, “para contrariar as inibições por sermos uma região do interior e incutir a ideia de que somos cidadãos do mundo, mas sem esquecer as nossas raízes alentejanas”, observa.

A estreita colaboração entre a direcção da escola e a associação de pais foi também realçada pelo seu presidente, Luís Estevens. “A directora criou um bom clima de trabalho. Não é uma liderança partilhada, mas também não é ditatorial. Sabe ouvir as outras pessoas.”

Lamenta a pouca adesão dos pais, frisando que a vida da associação de pais “não tem sido regular”, constrangimento que obriga a recorrer a meios tecnológicos e redes sociais, sobretudo ao Facebook. “Registamos com agrado que temos, com frequência, cinco mil visualizações”, numa cidade com 25 mil habitantes.

“Enquanto pai e presidente da associação, fico satisfeito pelo que tem sido feito pelos professores, alunos e pais para alcançar os resultados que nos destacam a nível nacional”, vinca Luís Estevens.

O depoimento de Paula Cabral, mãe de um aluno que frequenta o 9.º ano, sintetiza a opinião expressa por outros pais ouvidos pelo PÚBLICO. Diz ter escolhido a escola D. Manuel I, depois de recolher informações sobre a qualidade dos professores e o ambiente escolar. “Os resultados têm sido satisfatórios” desde que o filho ali se matriculou, no 7.º ano. “Tem boas notas, a turma é equilibrada e mantém-se, praticamente, com os mesmos professores”, de que destaca a “preocupação e empenhamento”.

Veja a lista ordenada das escolas

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