A arte de bater nas mulheres e noutros mamíferos

Não é possível que a anormalidade nos invada e nos deixe submergidos nos interesses dos governantes e interesses que representam e que não se importam que as mulheres kuwaitianas sejam tratadas como dromedários e ou cabras, desde que os negócios com o emir progridam.

Há coisas na vida que acontecem e são tão horríveis que pela sua intensidade nos cansam. O grau de anormalidade tornou-se tão normal que já nos acostumamos.

As notícias sobre a violência exercida em certos países árabes e muçulmanos contra as mulheres tornaram-se numa espécie de não notícia.

Há meses, antes do dia Internacional das Mulheres, um painel de cientistas sauditas considerou que as mulheres são mamíferos e que nessa condição terão os mesmos direitos que os camelos, as cabras, os dromedários. Antes o estatuto era o de um objeto, do tipo móvel de casa.

Tal facto foi considerado naquele reino um avanço extraordinário, pois deixaram de ser coisas e passaram a ser mamíferos com direito a abrigo e alimentação.

Ainda segundo o painel as mulheres não têm alma, mas têm coluna vertebral e podem procriar.

Ao lado, no Kuwait, há dias num programa de televisão da cadeia televisiva Alkout daquele país do Golfo a investigadora Ghadeer Jamal apareceu no programa a esclarecer que há duas circunstâncias em que o homem pode bater na mulher.

A primeira funda-se no facto da mulher se recusar a dar ao homem o prazer que ele tem a receber dela e que é uma determinação de Alá.

A segunda deriva de ela sair de casa sem o seu consentimento.

Nestes dois casos o homem tem direito a bater na mulher. Para quê? Ela explica - Na esperança que ela retroceda e volte ao caminho direito, isto é, deixando-o fornicar ou não saindo de casa sem o seu consentimento.

A investigadora adianta a sua tese tendo em vista o ato de bater. Será que podendo bater, o pode fazer de qualquer modo?

Não! O marido não pode bater à toa. Bater, mas com cuidado. Para corrigir comportamentos desviantes como o de não querer dar prazer ao marido ou sair sem a autorização respetiva.

A linha vermelha é não deixar marcas negras ou vermelhas. Tal limite tem implícito que se bater e não houver marcas negras ou vermelhas ele está a corrigir devidamente a mulher

E se não respeitar? Ghadeer Jamel adianta – A mulher tem o direito de receber uma indemnização pecuniária…

Um homem rico e com quatro mulheres bem se poderá cansar a bater e a corrigir as mulheres que não lhe queiram dar o prazer que ele pretende que na pior das hipóteses se alguma(s) delas se queixar(em) o que lhe poderá suceder é ter de pagar uma indemnização decidida por homens que foram os autores desta nobreza e exemplo de igualdade entre um humano e um ser mamífero ao nível de um dromedário, conforme o painel dos cientistas dos vizinhos sauditas…

O que falta explicar e a senhora investigadora poderia discorrer, mas não o fez, é o seguinte: sendo a mulher igual ao dromedário ou à cabra, o que sucederá àqueles mamíferos se se recusarem a dar prazer ao seu dono ou se saírem sem autorização do curral?

É aceitável que se lhes bater tenha limites quanto a marcas? E se houver os mesmos limites por estarmos diante de animais da mesma categoria, o que sucederá caso deixe marcas negras ou vermelhas? Têm estes animais direito a uma indemnização?

O vídeo da investigadora não vai até este ponto o que deixa a doutrina indecisa e à espera de solução para casos onde aconteçam esses deslizes de quem quer obter prazer e lhe ser recusado.

Ela é clara quanto à necessidade de parar quando a senhora bem corrigida  o deixa ter prazer ou quando regressa ao doce lar, mas não quanto ao facto de a mulher não se inclinar a satisfazer o homem e aí não sabemos quando ele pode parar de lhe bater enquanto não aparecerem as tais manchas negras ou vermelhas…

No que concerne à outra espécie dos mamíferos equiparadas à das mulheres é de supor que aconteça o mesmo – a cabra que não se ajuste a dar prazer ao dono deverá ser esmurrada até se arrepender ou até que apareçam as manchas negras ou vermelhas ou o homem se canse, caso seja um homem sem grande força…

Mas no caso das mulheres recalcitrantes e de os homens terem a esperança que elas os atenderão nos seus desejos a pancada é sempre justificada…desde que não deixe manchas negras ou vermelhas.

Voltando à normalidade das coisas não é possível que a anormalidade nos invada e nos deixe submergidos nos interesses dos governantes e interesses que representam e que não se importam que as mulheres kuwaitianas sejam tratadas como dromedários e ou cabras, desde que os negócios com o emir progridam.

 

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