The New Digital School, uma escola sem professores e sem sala de aulas

“Não somos doidos e não fazemos nada de forma aleatória”, explica Tiago Pedras, 32 anos, fundador da The New Digital School, uma escola que acaba de aterrar na Incubadora de Design do Mercado Municipal de Matosinhos

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Fernando Veludo/nFactos

O ideal, pensou um dia Tiago Pedras, seria “fazer uma escola diferente, completamente fora do sistema de ensino e das regras que estão instituídas”. Pensou e rapidamente passou à acção. “Devíamos começar do zero e fazer algo adaptado ao aluno”, explica ao P3 o fundador da The New Digital School, uma escola "sem professores, sem programa e sem sistema de avaliação”, uma espécie de extraterrestre no sistema educativo português que aterrou na Incubadora de Design do Mercado Municipal de Matosinhos — abertura prevista para o dia 16 de Janeiro.

 

Nesta escola, são “os alunos que definem aquilo que querem aprender”. Daí o factor diferenciador que pretende “quebrar com os moldes” instituídos no ensino público e introduzir um “formato de aprendizagem mais aberto”. “Não somos doidos e não fazemos nada de forma aleatória”, defende Tiago Pedras. “Abolimos as três componentes no sistema tradicional porque achamos que não são necessárias”. Em contrapartida, foi criado um novo sistema que se “adapta, ao longo do ano, ao background de cada aluno”.

 

Preocupado com as limitações da metodologia do ensino superior, Tiago, natural de Barcelos, aponta que “o mais importante é o que torna o aluno único e não necessariamente aquilo que aprendeu na escola, comum a todos”. Quando este paradigma de “programa fechado” é substituído, o fundador do projecto acredita que os alunos podem “ter uma maior abrangência de conhecimentos nas mais variadas áreas”.

 

Durante o curso, os estudantes são formados por profissionais da área do design digital, cada um deles especialista numa temática, convidados a dar masterclasses com a duração de uma semana. “Substituímos a figura do professor – que comunica de um para muitos – por convidados que permitem criar um clima de conversa muito diferente e ainda temos os facilitadores a quem o aluno pode recorrer, pessoas que saberão apontar a direcção certa ou em direcção à pessoa certa”, explica Tiago.

 

Sem professor e sem sala de aula

Sem um programa definido e a figura típica do professor, sobra o sistema de avaliação que é considerado pelo jovem como “outro factor que ajuda a formatar”. “As pessoas sabem que não é por tirar boas notas que vão ter um bom emprego, mas continuamo-nos a enganar”. Quando este princípio falha, a avaliação assume a forma de feedback dado pelos formadores – ou guest educators, como prefere chamar Tiago – “no momento em que se faz um projecto ou exercício”. “A avaliação está lá, só não está de uma forma comparativa porque consideramos que é limitador”.

 

Esta escola vai funcionar em regime de dez sessões durante os dez meses, cada uma na primeira semana de cada mês. Nas restantes três semanas, os alunos desenvolverão projectos baseados e adaptados a problemas reais de determinadas empresas, de forma a poderem “pôr em prática o conhecimento que retiraram da primeira semana”. Nesta escola também não existe um calendário escolar típico – a formação começa no início do novo ano civil – nem uma sala de aula fechada. Aqui a ideia é que todos possam aceder a um espaço de coworking para que possam trabalhar livremente. No final, o aluno leva um certificado para casa, mas o mais importante é “o currículo a dizer o que aprendeu com determinadas pessoas e em que projectos trabalhou com determinadas empresas”. “Estamos a ser desde o início muito alternativos, até já nos chamaram anárquicos mas acho que não é uma palavra que faça muito sentido”, reitera. “Trata-se de formação de alta performance com moldes completamente diferentes do ensino público”.

 

A caminhar a passos largos para a inauguração, Tiago não podia estar mais satisfeito. “A adesão foi imensa, recebemos cerca de 200 candidaturas e vamos abrir com um número bastante pequeno porque considero que não é qualquer pessoa que tem perfil para uma escola destas e também quero que cada um dos alunos tenha atenção suficiente”. Do processo de selecção resultou uma turma de dez estudantes, com idades compreendidas entre 25 e 35 anos. Procurou pessoas com alguma experiência na área do design e que tivessem um factor crucial: “vontade de aprender e de evoluir”.

 

Este conceito “assustador” para quem ainda não conhece regressa em 2018 com uma nova edição e pode chegar a Lisboa ou a outra capital europeia já em 2019. O designer refere que o curso focado na web regressa com temas completamente diferentes e garante que, no próximo ano, já vão abrir outros cursos. Para já, e para alunos estrangeiros, as propinas são de 5500 euros pelo curso completo. Para portugueses, fixam-se nos 4500 euros.

 

Tiago acredita que o projecto tem potencial e que no fim do curso sairão “dez criativos com capacidade para mudar radicalmente de vida, entrar nas empresas em que sempre quiseram entrar ou criar projectos próprios”. Antes da nova aventura, sente um nervoso miudinho. “É o bichinho de fazer uma escola do zero que possa criar pessoas com paixão pelo design”.

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