Crescimento dos salários no mundo atingiu o nível mais baixo dos últimos quatro anos

Alerta é da Organização Internacional do Trabalho, que defende que a redução das desigualdades passa pelo salário mínimo.

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Em Portugal discute-se aumento do salário mínimo para 557 euros no próximo ano. FERNANDO VELUDO/Nfactos

O crescimento real dos salários no mundo abrandou fortemente de 2012 em diante e atingiu o nível mais baixo dos últimos quatro anos. De acordo com o Relatório Global sobre os Salários, divulgado nesta quinta-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o crescimento dos salários tem vindo a desacelerar e passou de 2,5%, em 2012, para 1,7% no ano passado.

O crescimento dos salários reais recuperou após a crise mas, desde 2012, tem vindo a desacelerar. E se se excluir a China – onde os salários subiram 6,9%, mais do que em qualquer outro país –, “o crescimento dos salários ao nível mundial cair de 1,2% em 2012 para 0,9% em 2015”.

A situação não é igual em todo o mundo, alertam os especialistas da OIT. Nas economias emergentes e em desenvolvimento, o crescimento dos salários abrandou de 6,6% para 2,5% nos últimos quatro anos, ao passo que nos países desenvolvidos a taxa de crescimento melhorou de 0,2% em 2012 para 1,7% no ano passado – a taxa mais elevada da última década. “O crescimento mais rápido dos salários nos Estados Unidos e na Alemanha explica uma parte importante destas tendências”, diz a OIT.

Mas deixa um alerta: “Ainda não é claro se esse aumento dos salários será sustentado no futuro ou se os países desenvolvidos voltarão aos padrões anteriores de estagnação salarial”. Ora num contexto económico em que os riscos de deflação aumentaram, a queda dos salários poderia, por si, tornar-se um factor importante de risco, conduzindo potencialmente a espirais deflacionistas de preços-salários”.

A desaceleração global dos salários, nota a OIT, ficou a dever-se ao facto de a recuperação verificada nos Estados Unidos e em alguns países europeus não ter sido “suficiente para compensar o declínio nas economias emergentes e em desenvolvimento".

As tendências mundiais agora divulgadas são motivo de “inquietação” para a directora-geral adjunta da OIT, Deborah Greenfield, que nesta quinta-feira apresentou o relatório numa conferência de imprensa em Genebra (Suíça).

“Alguns dos ganhos obtidos nos últimos anos poderão facilmente erodir”, alertou.

Além disso, a responsável lamenta que não haja “vontade política” para reduzir o fosso entre países desenvolvimentos e em desenvolvimento. As desigualdades são particularmente visíveis para as mulheres que, na Europa, ganham menos 20% do que os homens. E se olharmos para o fosso entre os géneros nos salários mais elevados, a diferença ultrapassa os 50%.

"Os aspectos institucionais do mercado de trabalho e as políticas salariais só serão verdadeiramente eficazes na redução das desigualdades se incluírem e protegerem os grupos vulneráveis, desfavorecidos ou sujeitos a discriminação", defende a organização, para quem as disparidades salariais entre homens e mulheres “continuam a ser uma preocupação global".

Salários mínimo e negociação colectiva reduzem desigualdades

Para a OIT, a estagnação dos salários médios e o seu crescimento abaixo dos ganhos de produtividade pode ter consequências sociais e económicas relevantes. Do lado social, explicam os técnicos no relatório, os trabalhadores sentem que não estão a receber uma parte justa dos resultados do crescimento económico, enquanto do lado económico, o fraco crescimento dos salários restringe o consumo das famílias.

Entre as recomendações que deixa aos vários países do mundo, o salário mínimo ganha relevância na redução das desigualdades entre e dentro das empresas.

Nos anos mais recentes, nota a organização, “muitos países adoptaram ou reforçaram os salários mínimos como uma forma de apoiar os trabalhadores de baixos salários e de reduzir a desigualdade salarial”.

E embora os dados mais recentes citados no relatório mostrem que quando o salário mínimo é fixado “a níveis adequados, podem aumentar o rendimento dos trabalhadores de baixos salários - muitos dos quais são mulheres - sem efeitos negativos significativos no emprego”, a decisão deve ser efectuada após a consulta aos parceiros sociais.

Portugal discute neste momento o aumento do salário mínimo de 530 para 557 euros em 2017. Em cima da mesa está a tentativa de um acordo com os parceiros sociais, apadrinhada pelo Presidente da República.

Tal com o salário mínimo, também a negociação colectiva tem, segundo a OIT, potencial para reduzir simultaneamente a desigualdade entre e dentro das empresas”. Mas a forma como a negociação colectiva se organiza tem efeitos diferenciados.

Se for de nível sectorial e abranger vários empregadores “maior proporção de trabalhadores fica coberta e é provável que a desigualdade seja reduzida dentro e entre empresas”. Se tiver lugar ao nível da empresa ou do local de trabalho, “o efeito restringe-se à desigualdade salarial dentro dessas empresas”.

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