Vídeo de 1995 permite-nos olhar Banksy mais de perto

Filmagens desfocadas do programa Shadow People, do canal britânico Channel 4, oferecem um vislumbre do artista em início de carreira.

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Flower Thrower é uma das mais icónicas obras de Banksy David Silverman/Getty Images

A especulação sobre a identidade de Banksy já fez correr muita tinta. No início do ano, um grupo de cientistas disse ter desvendado o mistério através de uma técnica usada normalmente para localizar criminosos e aumentou as suspeitas sobre o artista Robert Gunningham, nome apontado pela primeira vez em 2008 pelo tablóide britânico Daily Mail. Outros conspiraram que Banksy seria um colectivo de artistas ou uma mulher. Em Agosto, surgiu a teoria de que o artista britânico seria afinal Robert del Naja, dos Massive Attack. Um novo vídeo de 1995 permite-nos olhar mais de perto para o artista britânico, na altura em que deu uma entrevista às câmaras do programa Shadow People, do Channel 4.

O vídeo, que surgiu on-line recentemente e foi retirado de uma antiga cassete VHS, mostra imagens de um homem de cabelo escuro e óculos de hastes finas a criar arte de forma clandestina na noite de Bristol. O seu rosto está destapado, mas o desfoque e a pouca luminosidade das imagens não permitem distinguir as suas feições. A publicação ARTNET refere que o indivíduo que aparece no vídeo “tem uma sólida parecença com Robert Gunningham”, que já foi fotografado com óculos semelhantes.

Ao longo de quatro minutos, vemos o suposto Banksy quando ainda operava de forma (ainda mais) anónima na cena underground de Bristol. Ora desenha e corta as estampas distintivas da sua técnica, ora testa as latas de tinta em spray para depois pintar durante a noite e a madrugada. “A noite dá uma energia diferente à cidade”, diz o artista. “Quando és a única pessoa a andar pelas ruas, sentes que te podes safar de tudo”, acrescenta.

As imagens mostram vários exemplos de trabalhos do artista como as conhecidas ratazanas ou o icónico trabalho Flower Thrower. “Sempre que vejo uma parede que não pintei, fico um bocadinho inquieto”, diz, manifestando a vontade de fazer da rua a sua galeria.

A entrevista ilustra a propensão do artista para desafiar o status quo e a lei. “Se estou a pintar e a polícia vem, prefiro fingir que estou bêbado e a vomitar num canto do que fugir”, conta, referindo que “é muito divertido pintar ilegalmente à noite”. Banksy considera que essa adrenalina é um dos motores da sua obra. “Há aquele momento incrível quando chego a casa depois de ter pintado e os ter lixado e escapei impune. É por isso que o faço."

A atitude subversiva do artista em relação às instituições reflecte-se no modo irónico como afirma que não precisa dos grandes circuitos de arte para legitimar o seu trabalho. “Decidi que nunca quero fazer uma exposição numa galeria”, declara, revelando que recusou uma oferta da conhecida galeria londrina Saatchi. Para Banksy, a sua arte está acima de tudo o resto. “Não se trata de dinheiro. Não pinto para mais ninguém – não pinto para críticos."

Apesar de ao longo dos anos se ter insurgido recorrentemente contra a arte mainstream e o mundo capitalista, Banksy é um dos mais consagrados artistas contemporâneos e os seus trabalhos chegam a ser vendidos por mais de um milhão de euros. Em 2015, inaugurou o parque temático temporário Dismaland em Somerset, Inglaterra, depois de ter feito uma exposição em 2009 no Bristol Museum.

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