A nova presidente da FAP quer provar que “estudar vale a pena”

Ana Luísa Pereira, a primeira mulher eleita presidente da Federação Académica do Porto, foi também a primeira da família a ingressar no ensino superior. Para a mestranda em Gestão de Unidades de Saúde, são as “soft skills” que podem diferenciar os estudantes na entrada do mercado de trabalho

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Ana Luísa Pereira tem 24 anos e é a primeira mulher presidente da FAP Adriano Miranda

Na Federação Académica do Porto (FAP), Ana Luísa Pereira ocupa um lugar que foi, até agora, de homens. A primeira mulher presidente da estrutura de representação estudantil e institucional do Porto senta-se à mesa de reuniões da sede da FAP uma semana depois de ter tomado posse. Conhece bem o edifício, no pólo universitário do Campo Alegre: foi tesoureira da última direcção, encabeçada por Daniel Freitas, durante dois anos, e essa experiência ajudou-a a decidir concorrer à presidência. “Tendo eu uma visão e conhecimento sobre as dificuldades da gestão das actividades da FAP, achei que podia dar um contributo importante para o próximo mandato”, diz. Foi a votos sem listas oponentes e teve o apoio de 20 das 23 associações federadas da Academia do Porto.

Fundada em 1989 por Diogo Vasconcelos, a FAP foi, até agora, uma estrutura liderada por homens — mas este não é um facto ao qual Ana Luísa, de 24 anos, atribua relevância. “As pessoas são eleitas pela sua competência”, acredita. Com ligações ao associativismo estudantil desde o primeiro ano da faculdade, a jovem de Baião foi a primeira da família a frequentar o ensino superior. Escolheu o curso de Neurofisiologia da Escola Superior de Saúde (ESS), do P. Porto, onde frequenta, actualmente, o primeiro ano do mestrado em Gestão de Unidades de Saúde. Representar os estudantes é quase uma missão: foi vogal, vice-presidente e presidente, por dois anos, da Associação de Estudantes da ESS.

“O ensino superior permite um crescimento pessoal muito grande”, reflecte. “Sinto que, nestes anos, cresci muito neste altruísmo de ajudar os outros e de nos dedicarmos a uma causa (…). É por isso que não podemos resumir o ensino superior à formação e ao trabalho.” Sem qualquer afiliação política, Ana Luísa é peremptória: “Não estou cá para servir nenhum interesse pessoal, mas sim os dos estudantes.”

A ideia de que estudar não vale a pena, sublinha, “tem de ser desmistificada”. “Sendo claro que o ensino superior não forma apenas profissionalmente, não podemos ignorar que essa é uma parte importante.” A questão económica é transversal e conduz a uma outra discussão, sobre as bolsas de estudo. “Este Governo tem no seu programa o aumento do número de bolsas de estudo e nós esperamos ser chamados para fazer essa reflexão e dar o nosso contributo”, reitera Ana Luísa, para quem o abandono universitário é uma consequência da falta de capacidade de resposta dos serviços de acção social. Por ser “a base de todo este processo”, a revisão do regulamento das bolsas de estudo é urgente.

“Precisamos de garantir que os estudantes não abandonam o ensino superior por dificuldades económicas”, afirma, mas trazer de volta os que foram obrigados a fazê-lo não é questão de somenos. O fim do programa Retomar — “que tinha alguns problemas, claro, mas que existia” — deixou um vazio no esforço de permitir a conclusão da formação universitária de muitos jovens. Através do programa Passa Porto, a FAP sinaliza os casos de estudantes com dificuldades económicas às quais a acção social não consegue responder e encaminha-os para a Segurança Social. “Temos uma técnica disponível para receber esses estudantes e vamos tentar que ela volte a ter cá [na FAP] um horário de atendimento.”

Para 2017, a jovem aguarda “com muita expectativa” pela acção do ministério da Ciência e do Ensino Superior. O congelamento do valor máximo da propina “é uma medida importante”, admite, “mas claramente insuficiente por dar resposta a apenas um terço das instituições de ensino superior”. “O que defendo é que deveria dar resposta a todos os estudantes, ou seja, congelar-se a propina nos valores actualmente praticados.”

A FAP, observa, deve ser “o motor da Academia”, cada vez em maior proximidade com os estudantes. Rejeita a ideia de que o órgão que reúne os representantes dos mais de 60.000 estudantes da “maior Academia do país” é distante e incontactável. Sim, as associações de estudantes são mais presentes “porque estão no terreno e recebem feedback”, mas a FAP tem feito um esforço para se aproximar. “Hoje, os estudantes já sabem que estamos aqui para os apoiar”, garante. “Sinto que nos vão contactando mais.”

E porque não vê o ensino superior como uma experiência limitada às aulas e à classificação final, Ana Luísa aponta o “desenvolvimento de soft skills” como uma das preocupações do mandato que agora começa. “É importante dotarmos os estudantes de características diferenciadoras para o mercado de trabalho, que cada vez mais valoriza isso mesmo e não apenas a média”, refere. É aqui que entra o Pólo Zero, recentemente inaugurado após vários anos de atrasos. Bem no centro da cidade, os universitários do Porto têm agora um espaço que, para a nova presidente da FAP, “concretiza essa ambição”. No Pólo Zero, enumera, têm abertura para “mostrar os seus projectos à comunidade estudantil e à cidade e implementá-los”, sempre de forma gratuita. A FAP, diz em jeito de resumo, “é muito mais do que a Queima das Fitas” de uma “Academia muito irreverente”.

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