A última conferência de imprensa de Schulz

Schulz vai sair em Janeiro da presidência do Parlamento Europeu e regressará à Alemanha, para enfrentar Merkel nas legislativas. O adeus aconteceu na entrega do Prémio Sakharov.

Foto
Martin Schulz entregou o prémio às duas yazidis Vincent Kessler/Reuters

O presidente do Parlamento Europeu já anunciou que está de saída – o seu partido precisa dele para as legislativas do próximo ano na Alemanha. “Esta é a minha última conferência de imprensa como presidente do Parlamento. Durante muitos anos sentei-me nesta sala e ouvi-vos”, disse o alemão Martin Schulz no fim das perguntas às laureadas com o Prémio Sakharov 2016. “Estou muito contente que a última seja esta, é um momento de muito orgulho por estar sentado entre estas duas jovens mulheres.”

Schulz não escondeu a emoção durante a cerimónia de entrega do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento às yazidis Lamiya Bashar e Nadia Murad. Quando chegou à sala de imprensa ainda tinha o rosto inchado e avermelhado. “Acabámos de assistir a um momento muito especial. Havia muito poucas cadeiras vazias no plenário e isso quer dizer alguma coisa”, afirmou, depois de assumir “a emoção que outros colegas também não conseguiram evitar”.

Lamiya e Nadia são “heroínas”, disse o socialista alemão, que cumpriu dois mandatos à frente do PE e que muitos por aqui gostariam de ver continuar no cargo. “Sofreram crueldades indiscritíveis e indizíveis. Ultrapassaram o medo e o sofrimento e conseguiram finalmente encontrar refúgio aqui na Europa”, descreveu Schulz, num dia em que se lembrou muitas vezes a generosidade da Alemanha, que recebeu no fim de 2015 mais de 800 mil refugiados da Síria e abriu as portas também às duas laureadas.

“Não se pode dizer que a responsabilidade é da Alemanha. A responsabilidade é de todos”, disse Schulz quando se falava da necessidade de os estados-membros cumprirem os seus compromissos de acolhimento de refugiados que já se encontram na Europa (Grécia e Itália) mas também os que, como muitos yazidis, agonizam em campos no Médio Oriente.

As duas jovens foram raptadas em Agosto de 2014, quando o Daesh entrou na sua aldeia do Norte do Iraque, Kocho, e matou todos os homens e mulheres mais velhas, as que os seus combatentes não quiseram usar como escravas sexuais. Depois de meses em cativeiro, cada uma delas conseguiu fugir – Lamiya, 18 anos, fugiu quatro vezes e foi sempre recapturada até à fuga derradeira, quando a explosão de uma mina a deixou cega de um olho e lhe desfigurou o rosto.

“Temos de dizer ‘nunca mais’ como vocês repetiram. Mas não basta dizer, temos de agir”, afirmou Schulz. Agir face às tragédias como a dos yazidis, que estas sobreviventes agora tornadas activistas querem ver reconhecida como um genocídio. “A profundidade que se abre quando falamos de crimes horríveis como estes... Os testemunhos que elas deram em nome de todas as mulheres da sua comunidade é um apelo para não ficarmos indiferentes e agirmos”, disse, sobre os discursos de Lamiya e Nadia.

“Estou muito feliz porque, apesar de todas as atrocidades que estas jovens experimentaram e da dor que lhes foi infligida, elas não tenham desistiram e decidiram lutar e falar em nome da sua comunidade”, sublinhou o político alemão, que vai encabeçar a lista do SPD (Partido Social Democrata da Alemanha) às legislativas pela Renânia do Norte/ Vestefália.

O abandono do PE tornou-se claro depois de ter sido confirmada a recandidatura da chanceler Angela Merkel, da CDU (cristãos democratas), à chefia do Governo, no final de Setembro de 2017. A última mensagem foi de necessidade de agir e proteger os mais vulneráveis. “A meio do próximo mês, como anunciei em Novembro, vou-me embora. Fica uma última palavra.”

 

 

 

 

 

Sugerir correcção
Comentar