Sobre a noite passada: o intervalo do nosso (des)contentamento em The Walking Dead

Salvadores vs. sobreviventes (da audiência) no final de meio da temporada da série que parece ter perdido gás, além de cabeças, em 2016. Os críticos pedem mais, os fãs reconhecem um boné.

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AMC/FIC

O episódio que parte ao meio a 7.ª temporada de The Walking Dead foi aquele que tentou estancar a perda das últimas semanas. Não só a perda de sobreviventes do grupo que a série acompanha, de câmara ao ombro e lenço para limpar o sangue ou as lágrimas, há sete anos, mas também a perda de audiências. Um boné e um final de filme de Hollywood serviram de contraponto à (habitual) carnificina de dar a volta às tripas.

Não será unânime se esta é uma das temporadas menos bem conseguidas, mas é palpável – as audiências de The Walking Dead, a série do canal AMC que em Portugal passa na Fox e é um dos seus maiores sucessos, confirmam qualquer coisa. Depois do segundo episódio mais visto de sempre, a 7.ª temporada trouxe a queda mais pronunciada de sempre nas audiências. O regresso da série, em Outubro, com um dos capítulos mais sangrentos da televisão (em geral), foi visto por 21,5 milhões de americanos; no resto do mundo, foi alvo das conversas e reacções que indiciam um daqueles capítulos que milhões partilharam com mais ou menos fervor. Depois, as audiências começaram a cair, também aos milhões. Voltou aos níveis da 3.ª temporada mas, note-se, continua a ser uma das séries mais vistas, de longe, da TV por subscrição nos EUA.

Um novo vilão, o terrível tagarela Negan, uma personagem amada do comic que dá origem à série televisiva comandada por Greg Nicotero, era uma prevista garantia de um novo fôlego a uma história que tanto se baseia no cariz peripatético das personagens quanto no seu desejo de sedentarismo. Colónias, aquartelamentos, novos grupos – só de mulheres, só de pacifistas, só de seguidores de uma espécie de seita de violência e medo – e o protagonista Rick a quebrar ou a tentar ser domado.

Porém, nestas coisas do storytelling, há quem lhe veja as costuras das feridas acumuladas há sete anos e esteja à espera do que o episódio oito de 16 finalmente mostrou, com música inspiradora e olhares graves para todos: que o grupo se reúna (quase todo) e que decida combater Jeffrey Dean Morgan e as suas muitas páginas de diálogo por episódio. Pelo caminho cheio de armadilhas e zombies em diferentes graus de decomposição, “The Walking Dead estava a andar em círculos, e não há personagens interessantes suficientes para tornar essa viagem repetitiva algo que valha a pena”, escreveu Sam Adams na Slate. Mas “será que os autores de The Walking Dead não percebem que não queremos personagens a trocar olhares significativos? Queremos carnificina a sério”, ironiza Stuart Jeffries no Guardian. A série “tem sido boa e tem sido má, mas nunca esteve tão sem vida”, diagnostica Sam Adams na Variety. O New York Times, ainda assim, saúda um “episódio entusiasmante” depois de uma sequência menos boa.

Os críticos pedem mais e os espectadores dividem-se entre isso, os gif alusivos, a constatação de que por mais que critiquem a série regressam a ela, os paralelos com a política americana actual ou o sentimento – o apego a algumas personagens continua e o boné da personagem Maggie, visto como tributo ao seu marido caído no tal episódio sangrento de há dois meses, está a fazer as rondas das redes sociais emocionadas.

Um alvo evidente esventrado e mais uns tiros nos olhos depois, o que ficou foi a promessa de união de grupos e uma cena coreografada de reencontro repetido e emotivo. Mas também uma frase e um dedo erguido – “parabéns pela vitória, mas perdem à mesma”, dizia o papel – apontando finalmente o caminho para a casa do vilão e para algumas das dificuldades de uma das mais populares séries do mundo em 2016/17.

A série regressa a 12 de Fevereiro.

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