Novo primeiro-ministro é aliado de Renzi e terá “plenas funções e poderes”

Movimento 5 Estrelas mantém vantagem sobre o centro-esquerda do Partido Democrático. Gentiloni, designado pelo Presidente italiano, promete focar-se na reforma da lei eleitoral.

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Paolo Gentiloni, depois de receber o mandato para formar governo Alberto PIZZOLI/AFP

Na lista de potenciais sucessores a Matteo Renzi surgiam vários fiéis do primeiro-ministro demissionário. Paolo Gentiloni, a quem Sergio Mattarella encarregou de formar governo, era talvez o mais próximo – e, sendo membro do seu executivo, um dos que assegura a continuidade e afasta um cenário de regresso às urnas a curto prazo. O Movimento 5 Estrelas chama-lhe “avatar” do ex-líder do país.

O até agora ministro dos Negócios Estrangeiros tem dois dias para anunciar a sua escolha de ministros. O calendário não pára. A 15 de Dezembro vai representar Itália no Conselho Europeu, ao mesmo tempo que tem de gerir a crise do Monte dei Paschi (terceiro banco italiano e o mais antigo do mundo), que viu o Banco Central Europeu chumbar o seu pedido de alargar o prazo para um aumento de capital. A 1 de Janeiro, o país assume um lugar no Conselho de Segurança das Nações Unidas e passa a garantir a presidência do G7 (fórum das “democracias altamente industrializadas). <_o3a_p>

Itália “necessita de um governo urgente” porque há “calendários e compromissos a respeitar, no plano interno, europeu e internacional”, afirmou Gentiloni depois do encontro em que o Presidente lhe pediu que forme governo. Não um qualquer, mas um “com plenas funções e poderes”, deseja Sergio Mattarella.<_o3a_p>

“Aceito não por escolha mas por responsabilidade”, disse o ainda chefe da diplomacia, explicando que pretende “acompanhar, e se possível, facilitar, o percurso das forças parlamentares” para definir a nova lei eleitoral. <_o3a_p>

Gentiloni vai governar com o apoio da “mesma maioria por indisponibilidade das outras forças”, explicou ainda o chefe de Estado. Nenhum dos outros partidos com presença parlamentar aceitou a proposta para um governo de consenso feita pelo Presidente. Contra a sua opção está toda a oposição menos o Força Itália (direita liderada por Silvio Berlusconi).

O Movimento 5 Estrelas insiste que o país deve ir a votos já e que “a próxima lei eleitoral feita no Parlamento deve ser elaborada por uma assembleia eleita pelo povo”, nas palavras de Luigi Di Maio, vice-presidente da Câmara dos Deputados e “número dois” não oficial do fundador do partido anti-partidos, Beppe Grillo.<_o3a_p>

Mattarella discorda e quer uma lei “homogénea para a Câmara dos Deputados e o Senado”. Renzi demitiu-se há uma semana, depois do chumbo em referendo da sua reforma constitucional – a lei eleitoral em vigor só regula a eleição para a câmara baixa, uma vez que com as alterações à Constituição previstas na consulta, o Senado perdia poderes e deixava de ter os seus membros eleitos.<_o3a_p>

O 5 Estrelas lidera as sondagens para as legislativas. A vantagem que tem sobre o Partido Democrático (centro-esquerda, de Renzi e Gentiloni) mantém-se inalterada desde Novembro, e nem o resultado do referendo provocou mudanças. Soma a preferência de 31,5% dos eleitores, contra 29,8% do PD. Em terceiro nas intenções de voto surgem o Força Itália e a Liga Norte (partido xenófobo e secessionista), com 11,9%, a grande distância do Fratelli d’Italia, de Giorgia Meloni, (extrema-direita saída dos pós-fascistas da Aliança Nacional), com 4,8%. <_o3a_p>

Quarto não eleito<_o3a_p>

Mattarella queria um “Renzi bis”, esperando poder reconduzir o primeiro-ministro depois da sua demissão, mas a dimensão da derrota no referendo (o “não” teve 59,1%) inviabilizou a sua primeira opção. Escolheu a mais próxima, ao designar o homem indicado por Renzi. “O PD, Mattarella e Napolitano inventaram o quarto primeiro-ministro não eleito por ninguém, a fotocópia infeliz e inútil de Renzi”, disse Matteo Salvini, líder da Liga Norte. <_o3a_p>

Giorgio Napolitano, ex-Presidente, nomeou Mario Monti sem eleições para substituir Berlusconi em Novembro de 2011 – o mesmo Napolitano pediu a Enrico Letta que formasse governo (depois do fracasso do candidato do PD, Pierluigi Bersani) em 2013; um ano depois, Letta perdeu um voto no interior do partido quando Renzi decidiu que não ia esperar mais pela liderança. Foi Renzi o líder do terceiro executivo não escolhido nas urnas.<_o3a_p>

O 5 Estrelas não vai estar no voto de confiança a Gentiloni na Câmara dos Deputados, previsto para logo depois da cimeira europeia. “Nem queremos legitimar este este governo com o nosso nome”, explicou Giulia Grillo, chefe dos senadores do partido (sem parentesco com Beppe Grillo). <_o3a_p>

Giorgia Meloni descreveu a “passagem do governo das marionetas dos lobbies para o governo das marionetas das marionetas dos lobbies” e anunciou uma manifestação de protesto para dia 22 de Janeiro. O partido de Meloni espera juntar-se à Liga Norte e ao 5 Estrelas para formar uma possível coligação pós-eleitoral e chegar ao poder. É isso que mais se teme nas capitais europeias, já que o movimento de Grillo promete referendar a participação italiana na moeda única – isto quando ainda nem se começou a negociar a saída do Reino Unido da UE. <_o3a_p>

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