Presidente da Gâmbia resiste às pressões internacionais para ceder o poder

Derrotado nas eleições de 1 de Dezembro, Yahya Jammeh quer agora nova consulta, organizada por uma comissão eleitoral "temente a Alá". A ONU e os Estados Unidos já pediram que respeite a vontade popular.

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O presidente eleito, Adama Barrow AFP/SEYLLOU

Depois de ter recusado na sexta-feira aceitar a derrota nas eleições de 1 de Dezembro, que perdeu para o seu opositor Adama Barrow, o actual Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, anunciou no sábado que irá contestar os resultados eleitorais junto do Supremo Tribunal do país e exigir nova consulta popular, enquanto crescem as pressões internacionais para que reconsidere e ceda o poder.

Jammeh começou aparentemente por se resignar a um resultado que poucos ousavam esperar, e que o afastava do poder que conquistou há 22 anos por meio de um golpe de Estado e que exercia desde então em assumida ditadura.

Adama Barrow, que se apresentou como candidato unitário de uma coligação de sete organizações oposicionistas e obteve 45,5% dos votos, contra os 36,6% alcançados por Jammeh, tinha mesmo afirmado, logo após as eleições, que o actual Presidente lhe telefonara a congratulá-lo pela vitória. Barrow viveu e trabalhou em Londres, e regressou à Gâmbia em 2006, onde fundou e gere uma empresa imobiliária.

Mas com Jammeh a voltar com a palavra atrás e as ruas da capital, Banjul, guardadas por um forte dispositivo militar enviado pelo regime, Adama Barrow confessou este domingo que teme pela sua segurança.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas já pediu a Jammeh que aceite a derrota eleitoral, mas a esperança de que o Presidente permita uma transição de poder pacífica parece agora cada vez mais longínqua.

Pequeno país da África ocidental com pouco mais de 1,5 milhões de habitantes, rodeado pelo Senegal e por uma estreita faixa de costa atlântica, a Gâmbia tem sido levada a um crescente isolamento internacional pelo regime de Jammeh, que a retirou da Commonwealth e, mais recentemente, do conjunto de Estados que subscrevem o Tribunal Penal Internacional.

Depois do surpreendente resultado eleitoral, e de uma não menos surpreendente aceitação da derrota, Yahya Jammeh, que tem hoje 51 anos, afirmou na televisão que mudou de ideias e quer agora promover “novas eleições, transparentes e coordenadas por uma comissão eleitoral temente a Alá e independente”.

Segundo o jornal britânico The Guardian, a sua posição inicial pode ter ficado a dever-se à falta de apoio das lideranças militares, e não é de excluir que as declarações de dirigentes da oposição sugerindo a intenção de o vir a responsabilizar judicialmente pelos crimes do tenham acabado por contribuir para que militares e polícias se unissem em torno de Jammeh.

A embaixada americana em Banjul já pediu aos militares que continuem a “respeitar a lei e o resultado das eleições”, acrescentando que “o povo da Gâmbia fez uma clara escolha a favor da mudança e de um novo começo”. E as autoridades de Washington divulgaram um duro comunicado, no qual acusam Jammeh de trair a confiança do seu povo e de protagonizar uma “chocante tentativa de sabotar um processo eleitoral credível, mantendo-se ilegitimamente no poder”.  

O porta-voz da oposição, Isatou Touray, criticou a “violação da democracia” e apelou ao povo para se manter “calmo, lúcido e vigilante”, mas para “não recuar”.  

Se o processo pós-eleitoral decorresse normalmente, Barrow deveria tomar posse no final de Janeiro, após um período de transição, mas tudo indica que Jammeh irá fazer os possíveis para que esse cenário não se concretize.

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