Juan Manuel Santos diz que paz na Colômbia pode ser um exemplo para a Síria

No discurso que fez na cerimónia de entrega do Nobel da Paz, o Presidente da Colômbia lembrou que o seu país está "a transformar o impossível em possível".

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"Há seis meses a paz parecia um sonho impossível", disse Juan Manuel Santos AFP/TOBIAS SCHWARZ
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A mulher e os filhos do laureado AFP/TOBIAS SCHWARZ
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Juan Manuel Santos à chegada AFP/HAAKON MOSVOLD LARSEN
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A família real da Noruega AFP/LISE ASERUD
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A apresentação do prémio Nobel da Paz AFP/TOBIAS SCHWARZ
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O Presidente colombiano a discursar AFP/LISE ASERUD

Há seis anos "a paz parecia um sonho impossível" para os colombianos. Foi com estas palavras que Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia e Nobel da Paz 2016, iniciou o seu discurso em Oslo, na cerimónia oficial de entrega do prémio, ao início da tarde deste sábado, na capital norueguesa. Poucos eram os que, na Colômbia, tinham ainda "a memória de um país em paz". E, no entanto, seis anos passados, e após "intensas e muitas vezes difíceis negociações", os colombianos, "com a ajuda dos nossos amigos em todo o mundo" estão, por fim, a "transformar o impossível em possível" e a guerra "chegou finalmente ao fim".

O acordo de paz conseguido na Colômbia é, disse ainda o Presidente, "um raio de esperança num mundo onde existem tantos conflitos e tanta intolerância" e pode ser um exemplo a seguir por outros países. "Prova que o que, de início parece impossível, com persistência pode tornar-se possível na Síria, no Iémen ou no Sudão do Sul". 

Juan Manuel Santos lembrou que ainda há dois meses, o mundo ficou "chocado" ao saber que o referendo para a ratificação do acordo de paz com a guerrilha das FARC tinha recebido mais votos contra do que a favor. "Muitos de nós na Colômbia recordámos uma passagem de Cem Anos de Solidão, a obra-prima do nosso Nobel da Literatura Gabriel Garcia Márquez, que parecia ilustrar o momento que vivíamos: 'Era como se Deus tivesse decidido testar toda a nossa capacidade para nos surpreendemos e mantivesse os habitantes de Macondo num estado permanente de alteração entre excitação e desapontamento, dúvida e revelação, a tal ponto que ninguém sabia exactamente onde estavam os limites da realidade.' Sentíamo-nos também nós habitantes de Macondo, um lugar não apenas mágico mas também contraditório."

Mas, prosseguiu, como chefe de Estado, estava "determinado a transformar este revés numa oportunidade para criar o mais amplo consenso possível para conseguir um novo acordo". Assim, dedicou as suas energias a "ouvir as preocupações e recomendações dos que tinham votado 'não' e dos que tinham votado 'sim' e da maioria, que não tinha votado". Juan Manuel Santos confessa que, estando no meio deste processo, recebeu a notícia da atribuição do Nobel da Paz como se fosse "um presente do céu" e foi esta notícia que permitiu aos colombianos chegar, por fim, ao "porto da paz". O Presidente da Colômbia agradeceu, por isso, ao Comité do Nobe, este "voto de confiança e fé no futuro do meu país". 

Sublinhando que o novo acordo foi assinado há duas semanas, lembrou que ele representa o fim "do mais antigo e do último dos conflitos armados no Hemisfério Ocidental". "Com este acordo, podemos dizer que o continente americano – do Alasca à Patagónia – é uma terra em paz."Isto não significa, contudo, que possamos parar por aqui, defendeu. "Se a guerra acabou num hemisfério, por que não poderá acabar um dia em ambos os hemisférios?", perguntou. "Talvez, mais do que nunca, possamos atrever-nos a imaginar um mundo sem guerra."

Falou da sua experiência pessoal e do facto de ter sido também "um líder em tempos de guerra" para deixar uma certeza nascida dessa experiência: "É muito mais difícil fazer a paz do que a guerra". E partilhou uma lição: "É loucura acreditar que o fim de um conflito deve ser a eliminação do inimigo" porque "uma vitória final através da força, quando existe alternativas não-violentas, não é mais do que uma derrota do espírito humano". 

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