Fundos de investimento criam "algumas das maiores fortunas da era moderna"

Investigação do The New York Times sobre o poder dos executivos à frente dos grandes fundos de capital de risco.

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Stephen A. Schwarzman, o presidente do grupo Blackstone, fala no Fórum Ecómico Mundial em Davos Reuters/DENIS BALIBOUSE

Os homens que estão à frente das seis maiores empresas de fundos de investimento cotadas na Bolsa são, actualmente, os executivos mais bem pagos de qualquer indústria dos Estados Unidos da América, conclui uma investigação feita pelo The New York Times com base em números da empresa de análise de dados Equilar. Num longo trabalho dividido em vários artigos, o jornal explica como estes empresários conseguiram reunir “algumas das maiores fortunas da era moderna”.

O mais rico é Stephen A. Schwarzman, co-fundador da Blackstone, que no ano passado ganhou 800 milhões de dólares – valores que fazem com que ele e os outros executivos de topo de empresas deste tipo ganhem mais anualmente do que os líderes de empresas como o Facebook ou a Apple. Comparados com os responsáveis dos grandes bancos norte-americanos, os executivos ligados aos capitais de risco têm rendimentos dez vezes superiores, sendo que os salários representam uma fatia menor num "bolo" cuja maior fonte de rendimento provém dos dividendos e distribuição de lucros e que inclui também o resultado dos investimentos pessoais.

O que estes fundos fazem é investir em empresas, por vezes, em dificuldade, comprando-as por valores baixos, reestruturando-as e vendendo-as depois com grande margem de lucro. E o seu poder tem, segundo o New York Times, vindo a crescer de forma exponencial. Trata-se de uma indústria que tem sob o seu controlo, só nos EUA, 4,4 milhões de funcionários de mais de 7500 empresas, de acordo com os números da plataforma de dados PitchBook. A Blackstone está já entre os dez maiores empregadores do país e é também um dos maiores senhorios.

Em Portugal, a Blackstone, que é a maior private equity do mundo no sector imobiliário, comprou o Almada Fórum e o Fórum Montijo. A Apollo, outro grande fundo norte-americano, comprou em Portugal a Tranquilidade e mostrou-se interessado noutras seguradoras e também no Novo Banco. O Grupo Carlyle avançou com uma parceria com a Logopaste, 

O New York Times explica que “embora a capacidade destes fundos para gerar grandes lucros seja indiscutível, o valor desta indústria para o mercado do trabalho e a economia em geral está aberto a debate”. Se é verdade que sem este capital de risco muitas empresas poderiam desaparecer para sempre, também é um facto que muitas delas são objecto de reestruturações que passam por despedimentos em larga escala.

Um dos exemplos que o jornal dá é de uma empresa chamada Hostess, de produção industrial de bolos, que, sob a reestruturação dos fundos Apollo e Metropoulos, passou de 8000 trabalhadores para 1200 e fechou uma das suas fábricas para a reabrir mais tarde com menos 415 trabalhadores. Um ano depois dos despedimentos, conta o New York Times, os fundos conseguiram um empréstimo de 1,3 mil milhões de dólares, dinheiro que foi usado “para pagar a si próprios e aos seus investidores numa espécie de adiantamento de dividendos pelo investimento realizado".

Uma parte substancial do dinheiro destas empresas provém de fundos de pensões, públicos e privados, de vários países. Esta é, reconhece o jornal, uma parceira “com benefícios mútuos”, que permite aos fundos de pensões ter uma rentabilidade superior à que conseguiriam na Bolsa.

Por outro lado, refere ainda a investigação, esta é uma indústria que tem um estatuto que lhe dá benefícios fiscais, pagando cerca de 20% de impostos em vez dos 40% que são habitualmente aplicados aos norte-americanos mais ricos. 

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