Um quinto dos pobres tem emprego

Ter um posto de trabalho pode não ser o suficiente para deixar de ser pobre.

Foto
Nos anos de intervenção da troika em Portugal todos os grupos perderam rendimentos Manuel Roberto (arquivo)

“Em Agosto de 2014, pela primeira vez desde há muitos anos, dei uma esmola (um euro) a um pobre”, conta Maria Filomena Mónica no último capítulo do seu livro, que intitulou “A pobreza, hoje”. “Provavelmente, o que me fez abrir a carteira foi ter chegado à conclusão de que, após um interlúdio a seguir à revolução, tínhamos voltado ao cenário atroz da miséria”, lê-se.

A investigadora recorda os dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística, que revelaram que, durante o período em que a troika esteve em Portugal (2011-2014), a proporção de trabalhadores pobres aumentou: de 9,9% para 11%. Em número de pessoas, isso significa que passaram de 469 mil para 495 mil. Em Portugal recebe-se, em média, 10,4 euros por hora, um valor inferior à Espanha e à Grécia, sendo a média europeia de 18,5 euros, escreve.

Citando o estudo Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal, da autoria de Carlos Farinha Rodrigues, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), lembra que ter um posto de trabalho pode não ser o suficiente para deixar de ser pobre. Afinal, “22% dos pobres têm emprego”, sendo que a percentagem de trabalhadores pobres aumentou entre 2009 e 2014. Nesse último ano, “quase um terço dos trabalhadores ganhava menos de 700 euros por mês”, cita a autora.

Farinha Rodrigues diz no mesmo estudo que cerca de um quarto dos indivíduos pobres em 2012 se encontravam nessa situação pela primeira vez, ou seja, que não tinham sido pobres entre 2009 e 2011, o que levou a que se começasse a falar de “uma vaga de novos pobres provenientes de outros grupos sociais usualmente não afectados”. Existia, diz-se ainda, um fosso geracional, o que levava a que 29% dos jovens tivesse perdido 29% dos seus rendimentos.

O autor, citado pela investigadora, conclui que “entre 2009 e 2014 todos os grupos perderam rendimentos, mas enquanto os 10% mais ricos perderam 10%, os 10% mais pobres perderam 25%”. A partir de 2010, as desigualdades sociais agravaram-se. Portugal figurava, em 2013, entre os países europeus com maior desigualdade: só a Letónia e a Estónia lhe ficavam abaixo.

Sugerir correcção
Comentar