Republicano do Colégio Eleitoral anuncia que não vai votar em Trump

O paramédico recorda a sua experiência nas operações de salvamento do 11 de Setembro e o texto de Alexander Hamilton para justificar porque não vai votar em Donald Trump a 19 de Dezembro.

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Reuters/MARK KAUZLARICH

Christopher Suprun, republicano do Estado de Texas e membro do Colégio Eleitoral, anunciou esta segunda-feira que não irá atribuir o seu voto a Donald Trump. O paramédico começa por apontar, num artigo publicado no New York Times, que é um eleitor republicano, um dos escolhidos para decidir oficialmente quem é o Presidente dos EUA. Conta que, desde o dia das eleições, a 8 de Novembro, as pessoas têm-lhe pedido para mudar o seu voto, por não concordarem com as visões políticas de Trump.

O republicano explica que na base da sua decisão está algo mais complexo do que discordâncias políticas ou porque o voto popular de Clinton ultrapassa em larga escala o de Trump. Suprun afirma que o que lhe está a ser pedido é que vote em alguém que não tem qualificações para o cargo – e com isso ele não pode concordar.

O Colégio Eleitoral, composto por 538 membros escolhidos através dos votos dos norte-americanos para os candidatos presidenciais, é quem escolhe oficialmente o próximo Presidente dos EUA. Este é o segundo membro do Colégio Eleitoral do Texas a recusar votar em Trump. Na passada semana Art Sisneros renunciou ao cargo de eleitor para evitar o voto em Donald Trump. Ainda não é conhecido o sentido de voto do seu sucessor.

Como se elege um Presidente nos EUA

Para justificar a sua decisão, o republicano recorda a sua experiência nas operações de regaste do 11 de Setembro como bombeiro e reforça que há 15 anos fez a promessa de proteger os EUA e a Constituição “contra todos os inimigos, estrangeiros e nacionais”. “No dia 19 de Dezembro voltarei a fazê-lo”, vinca.

Christopher Suprun prossegue e recupera um dos textos que inspirou a Constituição norte-americana e a definição do Colégio Eleitoral, escrito por Alexander Hamilton, um dos pais fundadores dos EUA e personagem principal do musical Hamilton criticado por Donald Trump. A 14 de Março de 1788, Hamilton escrevia que “o processo eleitoral deve dar a garantia moral de que o lugar da Presidência nunca ficará nas mãos de alguém que não cumpre as qualificações requeridas”. “Um pequeno número de pessoas, seleccionadas pelos cidadãos, será, provavelmente, quem mais possui informação e discernimento para uma análise tão complicada [no processo de escolha do Presidente dos EUA]”, justificava aquele que se tornaria o primeiro secretário do Tesouro dos EUA. No mesmo documento, Hamilton sublinha que os membros do Colégio Eleitoral devem usar o seu discernimento para prevenir a “confusão e desordem” que resultariam “desse mal” dos candidatos presidenciais explorarem a "baixa intriga e as artes menores do populismo".

O republicano assevera que passou "muitas horas a servir o partido de Lincoln e a eleger os seus candidatos”, mas destaca que irá passar outras tantas a “ser fiel com o partido e não com quem está na sua liderança”. “Não devo nada a um partido. Devo sim às minhas crianças e devo deixar-lhes uma nação na qual possam confiar”, sublinha.

Recordando as controvérsias que marcaram a campanha e já as semanas que se seguiram à eleição de Trump, Christopher Suprun lembra que o Presidente eleito convidou a Rússia a invadir os e-mails de Clinton, acusa-o de ser um demagogo que incentiva a violência.

Christopher Suprun recorre até ao mais recente filme da saga Star Wars para explicar a sua opção, depois de afirmar que Stephen Bannon, de 62 anos, um dos conselheiros mais importantes do próximo Presidente dos Estados Unidos se aproxima de Darth Vader pelas suas posições racistas, anti-semitas e misóginas. “Não vou levar os meus filhos para celebrar o mal [o lado negro da Força], mas para lhes mostrar que a luz [a Força] pode vencer”, sustenta.

Trump ainda não é Presidente

“A eleição do próximo Presidente ainda não está concluída”, lembra. “Os eleitores conscientes ainda podem fazer a coisa certa pelo país. Os eleitores presidenciais têm o direito legal e a obrigação constitucional de votar com consciência”, apela o membro do Colégio Eleitoral. Não se pense, no entanto, que a oposição de Suprun é um apoio a Hillary Clinton. O paramédico acredita que existe uma alternativa dentro do Partido Republicano e aponta até o Governador do Ohio, John Kasich, como uma das hipóteses. 

Ainda assim, para que a escolha do Colégio Eleitoral se alterasse e tivesse consequências práticas, seria necessário que mais 36 membros do Colégio Eleitoral fizessem o mesmo. Deixando Trump apenas com 269 e ficando aquém dos 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para oficializar a eleição à Casa Branca. Caso esse cenário aconteça é a Câmara dos Representantes a responsável por seleccionar o sucessor de Barack Obama. No entanto, a predominância de republicanos na Casa dos Representantes diminui as probabilidades de alteração do cenário.

Não obstante, muitos norte-americanos querem acreditar que esse cenário é ainda possível e decorre uma petição com mais de 4,7 milhões de votos dirigida ao Colégio Eleitoral, num apelo à escolha de Hillary Clinton no dia 19 de Dezembro. É já a maior petição alguma vez assinada na plataforma.

E se os democratas votassem todos num republicano?

Uma outra alternativa é apontada por Michael F. Cannon, professor no Cato Institute, num artigo de opinião assinado no Washington Post. Cannon argumenta que se os democratas realmente estão descontentes com a ideia de Trump como futuro Presidente dos EUA, então uma das alternativas prováveis é assumir a responsabilidade de escolher um outro candidato republicano. “Se Clinton anunciasse que iria libertar os ‘seus’ eleitores e lhes pedisse para votar num candidato republicano credível alternativo”, argumenta Cannon, bastariam que apenas 38 eleitores presidenciais republicanos abandonassem Trump para que a sua eleição fosse travada. “Um teste interessante a Clinton e ao seu partido”, continua

“Se os democratas acreditam verdadeiramente no que dizem sobre Trump, então deveriam preferir outro candidato republicano”, conclui. 

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