O único sobrevivente de um grande envenenamento de aves regressa à Natureza

Uma águia-imperial-ibérica, 11 milhafres-reais e uma raposa morreram no maior episódio de envenenamento de aves selvagens numa zona de protecção especial, em Castro Verde.

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A única ave que sobreviveu ao envenenamento antes do seu regresso à Natureza DR

Um milhafre-real que foi envenenado na Zona de Protecção Especial de Castro Verde (ZPE), na segunda quinzena de Novembro, é o único sobrevivente de entre 12 exemplares da sua espécie que morreram por envenenamento. Outras vítimas do maior episódio do género contra aves selvagens em zona protegida: uma águia-imperial-ibérica e uma raposa. Os animais foram encontrados pelas equipas da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), durante aquele período. 

Quando forem 12h de 7 de Dezembro de 2016, o milhafre-real que fintou a morte será devolvido à natureza, perto do Centro Escolar nº 2 de Castro Verde. É um local “relativamente afastado do sítio onde foi encontrado envenenado” explicou Paulo Marques, dirigente da LPN, ao PÚBLICO. Há, nesta decisão, uma atitude preventiva, que tenta acautelar um eventual novo episódio de envenenamento, receando-se que a causa possa ainda permanecer na zona onde a ave ingeriu o isco.

A ave de rapina foi encontrada ainda com vida e encaminhada para o Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (RIAS/ALDEIA em Olhão), onde acabou por ser tratada com sucesso.

A Liga assinala que este episódio de “envenenamento massivo", é o maior identificado até agora na Zona de Protecção Especial de Castro Verde e o terceiro maior em Portugal desde 2003.

Mas a par deste “infeliz e preocupante” acontecimento, a LPN regista o salvamento da ave de rapina, de uma espécie ameaçada em Portugal, frisando que se deveu ao “rápido encaminhamento da ave” para Olhão, realizado por um técnico da Liga, e à “eficaz intervenção da equipa do RIAS”, durante as últimas três semanas.

Os casos de detecção de aves selvagens ainda vivas com sintomas de envenenamento “são raros, dada a toxicidade dos compostos usados e a dificuldade de localização das aves na natureza”, refere a LPN.

As equipas da GNR recolheram todos os cadáveres encontrados, assim como outras evidências no local, que foram encaminhadas para análises forenses, aguardando-se os resultados dos primeiros exames solicitados pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Florestas. Paulo Marques referiu que “falta conferir a substância usada que causou a morte dos animais” assim como o veículo portador que poderá ter sido sob a forma de “iscos pequenos, grandes ou até num animal morto”.

O uso ilegal de veneno é uma prática muito lesiva para a natureza mas que pode também “afectar gravemente os seres humanos e os animais domésticos”, alerta a LPN. Existe um “elevado risco para a saúde pública, quer por introdução dos tóxicos na cadeia alimentar humana, quer através do contacto directo por manipulação de iscos ou contacto com fluídos de animais envenenados”, acrescenta a organização ambientalista.

A morte da águia-imperial-ibérica verificada na ZPE de Castro Verde, foi o quarto caso registado no Baixo Alentejo em 2016. Os indícios das restantes são igualmente “compatíveis” com morte por envenenamento, observa a Liga, sublinhando que nesta espécie de rapina, as ameaças não-naturais “podem pôr em risco toda a população nacional”, actualmente constituída apenas por 15 casais reprodutores.

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