Aos 80 anos, Mattarella é a chave da estabilidade política

O primeiro-ministro pode demitir-se e o ainda líder da direita diz-se pronto a salvar a Itália. Caberá ao Presidente gerir a crise.

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Sergio Mattarella, o Presidente italiano que tem 80 anos AFP

Sergio Mattarella esperava um mandato mais tranquilo. Esperava já não ter de lidar com Silvio Berlusconi. Quando aceita ser Presidente de Itália, o melhor é mesmo contar com crises e com Il Cavalieri.

Aos 80 anos, Berlusconi assume um “exercício de responsabilidade patriótico” e, como o primeiro-ministro de centro-esquerda, Matteo Renzi, diz que se demite se o “não” derrotar a reforma constitucional no referendo deste domingo, anuncia o pleno regresso à política. Garante que a sua saúde nunca esteve melhor e acusa Renzi de “profanar” a democracia e “pretender instaurar uma ditadura” com mudanças que fortalecem o executivo.

Tudo na mesma, por aqui. O homem que irrompeu na política italiana para ocupar à direita o espaço deixado vazio pela crise do início dos anos 1990, que fez implodir o sistema partidário, continua exagerado e autocentrado. E sim, o homem dos mil conflitos de interesses, falou num dos seus canais de televisão.

“Num momento de crise, a figura do chefe de Estado é particularmente importante, uma válvula de segurança”, dizia pela mesma altura Renzi, num programa do canal La7 dedicado ao referendo. “Todos os italianos podem estar tranquilos, estamos em óptimas mãos com o Presidente Mattarella.”

Então, o que se passa em Itália? Renzi quis mudar a lei eleitoral e a Constituição para alterar os poderes das duas câmaras do Parlamento e cortar gastos com entidades territoriais. Não correu bem. A lei eleitoral está nos tribunais e a reforma constitucional foi aprovada mas sem votos suficientes para evitar uma consulta popular – que Renzi se arrisca a perder.

Como disse e repetiu, demite-se nesse cenário. Será Mattarella a receber a sua demissão e a tentar perceber para onde se vai a seguir a isso. Quem promete uma festa nas ruas se a derrota do primeiro-ministro se concretizar é o Movimento 5 Estrelas, o partido anti-partidos de Beppe Grillo, que já controla câmaras como as de Roma e morde os calcanhares do Partido Democrático, de Renzi, nas sondagens.

A última festa a celebrar a saída de um primeiro-ministro aconteceu mais ou menos nesta altura do ano, em 2011: o homenageado era Berlusconi, substituído então pelo governo de tecnocratas liderado por Mario Monti.

Aconselha-se calma ao 5 Estrelas. O “não” estava muito bem encaminhado nas sondagens, mas os referendos são propensos a surpresas. O voto postal vindo do estrangeiro ultrapassou as expectativas e pode estragar a festa à oposição. Segundo o jornal La Repubblica, 40% dos quatro milhões destes eleitores. “Se o ‘sim’ conseguir dois terços dos italianos no estrangeiro, então é possível”, diz Renzi. Os defensores do “não” sustentam que estes votos são mais propícios a fraude e ameaçam ir para os tribunais. Mattarella terá muito com que se entreter, seja qual for o desfecho.

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