Negociações entre Governo e Tesla envolvem centros de inovação tecnológica

Governo garante que não há conversas para instalar em Portugal uma fábrica da multinacional de carros eléctricos. Empresa diz que só para o ano vai começará à procura de localizações.

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Executivo quer expansão da rede de supercarregadores da Tesla para Portugal SAM MIRCOVICH/REUTERS

A hipótese de a fabricante de carros eléctricos Tesla instalar uma fábrica em Portugal tem vindo a alimentar notícias e especulação nas redes sociais, mas não há nenhuma conversa nesse sentido entre o Governo e a multinacional americana. “Sobre a fábrica, não há qualquer negociação. Portugal só responderá se for consultado pela Tesla”, disse ao PÚBLICO o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes. O governante explicou que aquilo que aconteceu foram conversas sobre os postos de carregamento eléctrico da empresa e sobre a criação de condições para que inovações tecnológicas possam ser testadas em Portugal.

José Mendes detalhou ter havido “uma reunião em que o tema foi a expansão da rede de supercarregadores da Tesla para Portugal”. Estes postos permitem um carregamento mais rápido das baterias. Actualmente, não há nenhum em território nacional e os poucos que existem em Espanha estão longe da fronteira. “Nessa reunião, demonstrei o interesse do país em receber investimentos futuros ao nível da indústria automóvel e a disponibilidade de Portugal em trabalhar com eles para criar contextos favoráveis para testar inovações tecnológicas. Daí para a construção de uma fábrica, vai um salto muito grande”.

A multinacional americana, que já tem uma pequena fábrica de montagem na Holanda, vai começar no próximo ano o processo de escolha do local para criar uma nova unidade de produção na Europa. Mas garante que essa tarefa ainda não começou. “Sempre dissemos que, a longo prazo, fará sentido ter uma fábrica mais perto dos nossos mercados principais (Europa e Ásia), para além da nossa fábrica de Fremont [na Califórnia]”, afirmou ao PÚBLICO um porta-voz da empresa. “O Elon Musk [presidente da empresa] disse que começaremos a trabalhar em 2017 para encontrar o local certo”, acrescentou, sem querer comentar o caso específico de Portugal.

Depois de o jornal Faro de Vigo ter noticiado, há cerca de duas semanas, que Portugal e Espanha estavam a competir pela instalação da futura fábrica da Tesla, sucederam-se notícias sobre o assunto. Houve também movimentos criados através das redes sociais para tentar promover a vinda da empresa para Portugal e alguns municípios já esgrimiram argumentos para acolher um eventual investimento americano.

O secretário de Estado afirmou ainda querer que Portugal possa ter “zonas tecnológicas”, ou seja, um conjunto de infra-estruturas e de regulamentação que permita “testar inovações para lá do uso corrente, como é o caso dos testes com veículos autónomos, que não podem ser feitos no meio das cidades”.

Os veículos autónomos são uma tecnologia em que a Tesla (tal como o Google e alguns fabricantes tradicionais de automóveis) tem apostado e que tem levantado desafios legais e regulatórios em vários países. Todos os carros da Tesla já estão equipados com os componentes (como câmaras e sensores) para poderem levar a cabo algumas tarefas de condução, como o estacionamento ou a circulação em auto-estrada. A estratégia da empresa passa por activar e melhorar funcionalidades através da actualização do software dos carros já em circulação.

Nos planos da multinacional está também a criação de uma representação da Tesla no mercado português. “No que diz respeito à expansão da rede de supercarregadores da Tesla, as conversas estão bem encaminhadas. Estou muito optimista de que será possível, assim como a instalação de uma representação da Tesla em Portugal”, disse José Mendes. A multinacional está já a recrutar em Lisboa para funções relacionadas com vendas e serviços, incluindo um gestor de loja.

Na quinta-feira, a Secretaria de Estado da Energia anunciou a criação de um grupo de trabalho para estudar a exploração das reservas portuguesas de lítio, um minério usado no fabrico de baterias eléctricas. O lítio tem sido descrito como um trunfo para atrair a fábrica americana. Porém, o PÚBLICO apurou junto do Governo que a iniciativa não está relacionada com a Tesla.

O grupo de trabalho vai integrar entidades estatais e representantes do sector mineiro, e deverá apresentar as conclusões no final de Março. O objectivo, explica um comunicado, passará por “estudar e definir o posicionamento que Portugal pode assumir, no panorama mundial, no que se refere a toda uma nova indústria, que se encontra a despontar, associada aos fenómenos de electrificação da sociedade e designadamente dos meios de transporte”.

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