François Hollande não se recandidata à presidência para tentar unir a esquerda

Decisão foi tomada em nome do "superior interesse do país". Valls tem agora caminho aberto para avançar.

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Hollande enfrenta uma impopularidade histórica – é o Presidente com a mais baixa taxa de aprovação da Quinta República AFP

O Presidente francês, François Hollande, anunciou esta quinta-feira que não vai ser candidato às eleições presidenciais do próximo ano. É a primeira vez que, na Quinta República, um Presidente não se recandidata a um segundo mandato. Desta forma, Hollande evita uma luta fratricida com o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, e tenta dar impulso à unidade da esquerda.

"Sou sou consciente dos riscos que uma campanha à minha volta originaria. Por isso, decidi não me candidatar à renovação do meu mandato", anunciou. "Movo-me apenas em nome do superior interesse do país", justificou Hollande, eleito em 2012. Durante a sua curta declaração, o Presidente socialista reconheceu ter cometido erros durante o seu mandato, mas disse que a experiência lhe deu "humildade". "Como socialista, não me posso resignar à dispersão da esquerda."

O candidato da direita, François Fillon, sublinhou a "lucidez" de Hollande, que diz estar em "xeque". "Este mandato termina em caos político e num vazio de poder", acrescentou.

Poucas eram as hipóteses que o Presidente tinha para conseguir manter-se no Palácio do Eliseu. Hollande enfrenta uma impopularidade histórica – é o chefe de Estado com a mais baixa taxa de aprovação da Quinta República (iniciada com Charles de Gaulle, em 1958) – e estava pressionado pelo seu próprio campo político. O nome mais falado pela imprensa francesa para ser o candidato socialista é o de Manuel Valls, mas o primeiro-ministro ainda não anunciou formalmente a candidatura, embora já tenha dado sinais de que poderá avançar. No início da semana, os dois homens estiveram reunidos e chegou a especular-se que Hollande poderia pedir a demissão de Valls.

Com a saída de cena de Hollande, o caminho fica aberto para Valls tentar unir a esquerda em torno da sua candidatura. Não será, porém, uma tarefa fácil. Entre a esquerda radical, ex-comunistas e socialistas, mais de dez nomes já se perfilaram como pré-candidatos, embora nem todos venham a participar nas primárias. Um deles é o ex-ministro da Economia, Emmanuel Macron, que fundou o seu próprio movimento e do qual se espera venha a retirar votos importantes ao centro-esquerda. Macron saudou a decisão de Hollande, que disse ser "corajosa e digna".

À direita, tudo já está definido. François Fillon foi o vencedor das eleições primárias no partido Os Republicanos, deixando pelo caminho o autarca de Bordéus, Alain Juppé, e o ex-Presidente Nicolas Sarkozy. Na extrema-direita, o nome incontornável é Marine Le Pen, a quem as sondagens atribuem quase como certa a passagem à segunda volta.

A decisão de Hollande é histórica. Desde 1958 que todos os presidentes se recandidataram a um segundo mandato. A única excepção foi Georges Pompidou que morreu em 1974, dois anos antes de terminar a sua presidência.

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