Esquerda avisa Governo: cuidado com próximos passos na banca
BE e do PCP não põem mais pressão sobre o salário do sucessor de Domingues, mas avisam para a gestão da CGD e contra a venda do Novo Banco. Não haverá "seguidismo", diz Louçã.
O perfil do novo futuro presidente da Caixa é da responsabilidade do Governo e a esquerda não vai querer o ónus de ter contribuído para dificultar a escolha do Governo. Bloco e PCP mantém as suas posições sobre os salários da administração, pedindo-os muito mais baixos, mas assumem que isso será impossível.
A esquerda, mesmo assim, já deixa avisos à navegação, mas sobretudo sobre os problemas que se seguem no sistema bancário - na Caixa e no Novo Banco. O mais sonoro desses avisos vem de Francisco Louçã, ex-líder do Bloco: "Este processo teve ainda uma outra vantagem. Provou que o Governo tem que preparar as decisões sobre a banca com cuidado e que não deve contar com seguidismo. Elas não estão abrangidas pelos acordos da maioria e por isso os novos acordos nesta área têm que ser construídos, na CGD, no banco mau, no futuro do Novo Banco, na resposta ao aumento dos juros externos e na gestão do sistema bancário", diz Louçã, num artigo publicado no PÚBLICO.
No JN, esta terça-feira, a deputada Mariana Mortágua pedia isto para a Caixa: "Que o casting, desta vez, corra melhor". E explicava também por que razão o Bloco votou com PSD e CDS a exigência de entrega de declarações de património dos gestores, acto que levou à demissão de Domingues: "Nunca faríamos de outra forma".
Jerónimo de Sousa, numa entrevista ao PÚBLICO que será publicada na quinta e sexta-feira, põe também pressão: diz esperar que o Governo deve escolher "alguém animado pelo serviço público" e "que leve por diante o processo de recapitalização e, quanto à reestruturação, tem que salvaguardar os postos de trabalho e direitos dos trabalhadores - vamos ver no concreto". O plano de reestruturação da CGD já foi aprovado por António Domingues e será entregue ao seu sucessor, tendo previstos encerramentos de balcões, de agências fora do país e de rescisões, que foram contestadas desde o início pelos comunistas.
Quanto ao Novo Banco, "o PCP considera inaceitável a venda, em si. A solução pior é vender". O processo de venda, já se sabe, deve ser fechado nas próximas semanas - e o Governo e Banco de Portugal já assumiram a prioridade de entregar a instituição a privados. Todos os candidatos são estrangeiros.
Aviso, em sentido contrário
Esta terça-feira, o Governo recebeu outro alerta sobre a Caixa, este no sentido de que se apressem as decisões e se garanta o rigor na futura gestão do banco público. A agência canadiana DBRS colocou a dívida da Caixa Geral de Depósitos sob revisão e com perspectiva negativa, na sequência da saída de António Domingues e de boa parte da equipa de administração do banco público.
A revisão, explicou um comunicado da agência, reflecte “o aumento do risco que o grupo está a enfrentar” no que diz respeito a assuntos de governança corporativa, os problemas da recapitalização planeada, e ainda “as dificuldades contínuas em melhorar a rentabilidade e a qualidade dos activos”. O comunicado especifica que a revisão “vai considerar como a recente demissão, a 27 de Novembro, da maioria do conselho de administração afectará a reestruturação planeada do grupo”. Para além disso, a DBRS mostra preocupações com “os atrasos” na execução do plano de recapitalização.
Recapitalização divide
Já no Parlamento, o tema da Caixa Geral de Depósitos – mais precisamente o montante da recapitalização – tomou conta dos momentos que antecederam a discussão do Orçamento na generalidade, com a esquerda e a direita a trocarem acusações - mostrando que nem o dinheiro que vai entrar no banco público merece unanimidade.
João Paulo Correia, do PS, acusou os partidos da direita de pretenderem privatizar o banco público e garantiu que os socialistas serão sempre “um muro” contra a alienação da instituição. A mesma acusação foi lançada por Miguel Tiago, do PCP. Já a bloquista Mariana Mortágua criticou PSD e CDS por fazerem da Caixa uma “arma de arremesso político”.
Em defesa do CDS, o deputado João Almeida assegurou que o partido nunca defendeu a privatização do banco mesmo quando apoiava o anterior Governo. E reconheceu como importante a aprovação do plano de recapitalização em Bruxelas. Mas sublinhou que “o Governo não foi capaz de explicar o montante de recapitalização.”
O social-democrata António Leitão Amaro também acusou as bancadas da esquerda de não escrutinarem as decisões do Governo. “Andam de ouvidos tapados e de boca calada”, apontou, criticando os socialistas por sistematicamente “atirarem dinheiro para cima” como forma de resolver os problemas. Deu como exemplo o BES, referindo que na visão dos socialistas bastava ter cedido e dar "milhões" a Ricardo Salgado.
Com M.J.L. e S.R.