Injecções e implantes testados como novas armas de prevenção do VIH

Objectivo é proteger grupos vulneráveis ao vírus da sida, como os homossexuais e as mulheres em África.

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A Agência Europeia do Medicamento recomendou o Truvada para prevenir o VIH Justin Sullivan/AFP

Os cientistas estão a travar uma batalha para prevenir o VIH com um largo número de ensaios clínicos, começando com injecções. O objectivo é proteger grupos vulneráveis como os homossexuais e as mulheres em África, pelo menos durante dois meses. Mais à frente, a expectativa é que também se consiga produzir implantes com maiores dimensões e que façam a libertação lenta de medicamentos – como os dispositivos contraceptivos colocados debaixo da pele – que ofereçam um ano de protecção.

Os ensaios clínicos têm mostrado que a profilaxia pré-exposição ao VIH, conhecida pela sigla em inglês PrEP, pode diminuir o risco de contrair o vírus em mais de 90% dos casos, desde que as pessoas tomem os medicamentos regularmente.

Mas algumas mulheres de tribos em África, por exemplo, dizem que têm relutância em ter os medicamento para o VIH em casa, por medo do que os companheiros ou os vizinhos possam pensar. Já uma injecção dada numa clínica, argumentam os especialistas, poderá dar mais privacidade e garantir níveis de dosagem dos medicamentos mais estáveis.

E um implante no braço também poderá combinar os contraceptivos e a protecção ao VIH num só. “É melhor haver mais opções e penso que para alguns indivíduos as injecções serão óptimas”, disse Jean-Michel Molina, professor de doenças infecciosas no Hospital de Saint-Louis em Paris (França). “Agora que sabemos que os anti-retrovirais têm um grande potencial para prevenir as infecções de VIH, é tempo de realmente assegurar outras formas de distribuir estes medicamentos.”

Apesar de os avanços nos tratamentos reduzirem as mortes por sida, cerca de 1,9 milhões de pessoas ainda contraem VIH por ano – o número não tem oscilado desde 2010. As novas infecções entre homens que têm sexo com outros estão actualmente a subir.

O Programa das Nações Unidas para Sida alertou, na última semana, que esse aumento das infecções ameaça agora os progressos na luta contra esta epidemia global, ao mesmo tempo que a Organização Mundial da Saúde recomendou a PrEP para todos os grupos com um risco substancial de infecção pelo VIH.

À procura de uma vacina

A injecção experimental, que vai ser testada a partir do próximo mês em ensaios clínicos com a duração de quatro anos, é o cabogravir. Vai ser testada por uma unidade da GlaxoSmithKline em homossexuais continente americano e na Tailândia. No próximo ano vai ser distribuída também em mulheres africanas. Desta forma, a GlaxoSmithKline espera vir a ter primeira PrEP em injecção.

Dois estudos independentes para avaliar cabotegravir, em combinação com outro medicamento para o tratamento de VIH, também foram lançados este mês.

“O Santo Gral é uma vacina, mas ainda não temos uma vacina”, disse Myron Cohen, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (EUA), que esteve envolvido no estudo da primeira PrEP injectável e acredita que novas opções podem ajudar a controlar o VIH. Trabalha também noutro ensaio clínico de prevenção dando às pessoas anticorpos por gotejamento intravenoso. Neste longo processo, Cohen e outros especialistas no VIH estão especialmente entusiasmados com a libertação lenta de medicamentos em implantes.

Também a Gilead Sciences está a levar a cabo um estudo em fase avançada de avaliação do Descovy (emtricitabina e tenofovir alafenamida), a próxima geração de medicamentos para o VIH como alternativa oral do PrEP, uma vez que tem efeitos secundários mais leves do que o Truvada.

Os implantes ainda têm de passar a prova dos ensaios clínicos, embora uma experiência em cães no ano passado tenha tido resultados encorajadores. A GlaxoSmithKline e a Merck também ponderam os implantes como alternativas.

A dimensão do mercado de prevenção de VIH é incerta e o preço pode ser um problema, especialmente em África. O Truvada é por agora o único medicamento aprovado para a prevenção de VIH nos Estados Unidos. A Agência Europeia do Medicamento, por exemplo, recomendou em Julho deste ano que passasse a ser comercializado como medicamento de prevenção da infecção pelo vírus da sida. Nos Estados Unidos, é agora usado como PrEP por cerca de 90 mil pessoas.

Na Europa, o Truvada está agora também a ganhar peso, com França a oferecê-lo gratuitamente, enquanto no Reino Unido e noutros países, onde não é pago pelo Estado e há quem o esteja a comprar online.

Contudo, nalguns países tem existido alguma resistência a adoptar a PrEP. O Governo francês lançou este mês uma campanha para alertar para o VIH, inclui a PrEP, mas a iniciativa foi atacada por autarcas. Alguns têm criticado a PrEP por ofuscar a mensagem do “sexo seguro” através do uso do preservativo, especialmente porque, dizem, não irá prevenir outras doenças sexualmente transmissíveis.

Mas Sheena McCormack, da University College de Londres, rebate essa visão, dizendo que passa ao lado da questão. “A doença sexualmente transmissível que dura toda a vida e custa aos governos muito dinheiro é o VIH.”

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