Os laços entre PS, PCP e BE "têm de ser reforçados no futuro"

O presidente da Câmara de Lisboa defende que o PS deve investir na cooperação com a esquerda. Fernando Medina elogia a "convergência". A um ano das autárquicas, diz que é cedo para falar nas eleições e aponta o dedo a PSD e CDS por o fazerem sem ser "pela cidade".

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"Só estamos a falar das autárquicas por uma vontade do PSD e do CDS, por interesse próprio, de natureza partidária", acusa Fernando Medina Rui Gaudêncio

Este mês a câmara recebeu a Carris, o Governo deixou uma série de medidas para o Verão, como aumento de pensões ou o fim da sobretaxa. Não são demasiadas boas notícias pré-eleições?
As medidas do Governo havia até a vontade que já tivessem acontecido. Não tem nenhuma relação. Os eleitores já nos deram provas de saberem bem distinguir o que está em causa nos actos eleitorais. Além do mais, chegámos ao absurdo quando dizem: ‘As obras são más, só prejudicam.’ Depois do outro lado: ‘Mas ele só está a fazer por razões eleitoralistas.’”

As sondagens mostram o PS à beira da maioria absoluta sem precisar da esquerda. São assim tão boas notícias?
A sondagem mostra um reforço dos partidos à esquerda e uma perda dos partidos à direita. É uma excelente notícia para os partidos que apoiam esta solução. Passado só um ano, conseguiram, a seu crédito, a descrispação do país e a normalização da vida pública. A intranquilidade, o negativismo permanente e o confronto desapareceram. Os partidos que apoiam o Governo tiveram um papel muito importante e também o Presidente da República: conseguiram mostrar que aquilo que Passos Coelho dizia que era impossível é possível e foi feito com uma grande serenidade.

As sondagens também mostram que quem está a capitalizar tudo isso é o PS. Tendo em conta que 2017 é um ano de autárquicas e para o PCP, por exemplo, é muito importante, este desequilíbrio não poderá ser perigoso para o Governo?
que os partidos conseguiram demonstrar foi a importância do passo histórico que deram. A sondagem mostra que nenhum se prejudicou com esta solução. Alguns temiam que esta solução fizesse diluir as diferenças e provocasse a diminuição dos partidos, mas não está a acontecer. Mais: esta solução criou, ao conseguir resultados, laços de confiança que não existiam. Acho que têm de ser reforçados no futuro.

Mesmo que o PS tenha maioria absoluta, deverá chamar PCP e BE no futuro?
Estamos ainda muito longe de legislativas. Estes três partidos entraram numa dinâmica de cooperação. Estiveram durante muitos anos numa dinâmica de rivalidade e de uma certa competição. Esta solução traduz uma realidade nova, de acentuar os elementos de convergência e cooperação. O país reconhece isso como positivo. É uma obrigação do PS, e gostava de ver nos outros partidos um reforçar desses laços.

É possível essa dinâmica de cooperação, como lhe chama, em Lisboa?
As autárquicas não devem confundir-se com a lógica das legislativas.

Mas a lógica é a mesma: ou de competição ou de cooperação...
Sim, depende do grau, acho que estamos a fazer um debate importante na cidade. Tenho salientado a convergência importante que há à esquerda em matérias centrais.

Não sendo possível uma coligação pré-eleitoral, admite apostar em acordos pós-eleitorais?
Ainda é cedo para o debate sobre as soluções políticas. Só estamos a falar das autárquicas por uma vontade do PSD e do CDS, por interesse próprio, de natureza partidária que nada tem que ver com as preocupações da cidade. Os cidadãos não estão a pensar nas eleições. Nenhum partido, à excepção desses dois, se entusiasmou com o tema. E porquê? Por uma questão de sobrevivência e de afirmação das próprias lideranças — por motivos externos à cidade de Lisboa.

Não está afastada a possibilidade de uma coligação? Jerónimo de Sousa disse que a CDU ia concorrer sozinha em todo o país.
Ouvi. Volto a insistir: não é tempo de fazer o debate sobre as soluções — nem pré-eleitoral e muito menos pós-eleitoral. Há um diálogo que corre entre os partidos e forças políticas em permanência nos órgãos da câmara. Os quatro grandes desafios, na área da habitação, dos transportes públicos, do emprego e da inclusão, são desafios em que vejo espaços de convergência com os partidos à esquerda.

Parece conformado com a ideia de que se ganhar com minoria vai ter de fazer um acordo só nas políticas e não para governação.
Acho que isso já são muitos pressupostos (risos). Aliás, ainda nem anunciei que era candidato.

Em relação aos PS+, com os Cidadãos por Lisboa e à Associação Lisboa É Muita Gente, a ideia é reactivá-lo?
Acho que a experiência deste projecto político do PS+, que António Costa, Helena Roseta, José Sá Fernandes e o Manuel Salgado tiveram a arte de construir, teve resultados extraordinários. Em equipa que ganha não se mexe e por isso aquilo que provou bem deve ser mantido.

Prefere Assunção Cristas ou Santana Lopes?
Tenho muitos problemas com os quais tenho de lidar no dia-a-dia como presidente da câmara. Escolher quem é o candidato do PSD e do CDS não é um deles.

Como é que vê as críticas que lhe são apontadas pela candidata do CDS?
Acho positivo ter Assunção Cristas no debate sobre a cidade. Agora a sua entrada no debate não se fez propriamente pela cidade — fez-se mais por questões internas relativamente ao posicionamento do partido, à sua situação e ao diálogo do CDS com o PSD, do que propriamente com uma preocupação genuína relativamente à cidade. O que tenho visto em relação a temas centrais da cidade é um não-pronunciamento.

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