Um ano de Governo sem oposição, sem parceiros e com 'queixas' de boas notícias

Durante uma hora e meia, António Costa respondeu a eleitores. Desta vez não falou da oposição, falou das políticas do Governo e contornou as polémicas dos últimos dias.

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Costa juntou os ministros para falarem com os portugueses Fotos Miguel Manso
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No canal do Governo não há mau tempo, nem alertas laranjas nem vermelhos, as ajudas do árbitro são desmontadas e o principal jogador debaixo de fogo foi poupado. Durante uma hora e meia, o primeiro-ministro esteve a responder a eleitores na Reitoria da Universidade de Lisboa e não houve más notícias que por ali tenham corrido, a oposição não entrou, os parceiros de Governo não foram mencionados, o Presidente da República surgiu como aquele que “chama à atenção do Governo” e o ministro das Finanças teve “um voto de confiança”.

Para assinalar um ano de Govenro, António Costa esteve durante hora e meia a responder a eleitores escolhidos para um estudo do Instituto de Ciências Sociais e no leque de perguntas perguntou-se sobretudo sobre assunto de educação, apoios sociais, desemprego, saúde e confiança nas instituições. E foi sobre este tópico que Costa aproveitou para fazer um balanço do que tem feito. Voltou a falar na “normalidade” do país e no “sistema de fiscalização muito activo na Assembleia da República”. Apenas aqui e só aqui falou no que facto de ser positivo “não haver uma maioria de um só partido e de haver uma base parlamentar muito diversificada”, que por isso mesmo “impõe que haja uma fiscalização mais forte”.

Neste balanço aos eleitores existiu o Governo PS e não se falou dos três partidos. Mas também não se falou da oposição. Os nomes “PSD e CDS”, desta vez não foram ditos. Entrou, no entanto o Presidente da República.

Costa está feliz e até tem espaço para se 'queixar' das boas notícias. “O Presidente da República tem desempenhado correctamente o seu papel, de uma forma exigente, às vezes só aparece a parte em que as coisas correm bem ou em convergência, mas muitas vezes tem havido divergências, em que o Presidente tem chamado à atenção ao Governo como lhe compete”.

Referiu os raspanetes que não passam de Marcelo bem como as críticas que passam de mais na comunicação social ao ministro das Finanças. "Tem tido uma tarde muito tranquila, entre o que se lê e vê na comunicação social e as perguntas das pessoas…há uma enorme [diferença]. (...) Foi um voto de confiança”, brincou Costa.

A brincadeira – que Centeno aproveitou de imediato ao dizer que assim se percebe “o que é importante para as pessoas” – parecia ter saído de um guião preparado. Ou não fosse este “voto de confiança” ter sido dado quase uma hora depois de ter começado o exame pelos eleitores, apesar de a primeira pergunta ter sido sobre o sistema financeiro e de Costa não ter dado a palavra ao ministro nessa altura ao contrário do que fez com os restantes, sobretudo Vieira da Silva e Tiago Brandão Rodrigues.

Esta pergunta teve também o inédito de ser a única que teve direito a um “não” de Costa. Uma eleitora perguntou se iria ser ressarcida enquanto “accionista do Banif”. “Não. Como sabe o sistema de resolução bancária, protege os depositantes até certo montante, não protege os accionistas. (…) Relativamente aos accionistas, esses são responsáveis directa ou indirectamente pela situação do banco”, apontou o primeiro-ministro. Uma situação que Centeno considerou como fazendo parte de um dos “episódios menos felizes”. Nem o ministro nem o primeiro-ministro falaram da actual situação da CGD e também não ouviram perguntas sobre o banco público.

Mas durante o resto do tempo, na estreia deste formato de avaliação, as cerca de 20 perguntas de eleitores acabaram por ter respostas na ponta da língua. O primeiro-ministro garantiu, por exemplo, que “os bancos têm de pagar ao Estado” o dinheiro que lhes foi emprestado; que no âmbito da precariedade será revisto o relatório para que sejam distinguidas situações de falsos trabalhadores precários dos que são realmente recibos verdes; que serão desenvolvidos os cuidados primários e continuados e revertido o aumento das taxas moderadoras até ao final da legislatura; que o Governo está a fazer tudo para assegurar pensões futuras a actuais desempregados ou estudantes; que haverá transferências de competências para as autarquias ou, por exemplo, que retomou as 35 horas na função pública porque “não podemos alterar um contrato unilateralmente”. Um exame ao Governo que acabou numa reunião à porta fechada de todos os ministros e secretários de Estado. Certo é que enquanto o Governo continuar, esta experiência irá repetir-se.

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