Optimismo moderado à esquerda devido às rédeas curtas da dívida

Os principais desafios que se colocam à esquerda no segundo ano do novo Governo.

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Catarina Martins e Jerónimo de Sousa são parte do sustento do Governo de António Costa Nuno Ferreira Santos (arquivo)

Não é de estranhar que à esquerda seja o PS a considerar que há mais razões para se estar optimista em relação ao segundo ano da solução política encontrada para sustentar o Governo de António Costa. PCP e Bloco continuam a acreditar na junção de forças e no cumprimento das posições políticas conjuntas assinadas há um ano, mas fazem questão de manter uma apreciação fria e deixar avisos sucessivos sobre a necessidade de tratar da dívida.

Na verdade, ambos os partidos admitem que a médio, ou mesmo curto prazo, o cobertor não dará para tapar o corpo todo e atiram para o PS a responsabilidade de recusar definitivamente as exigências de Bruxelas para que o país tenha dinheiro para fazer a economia crescer. Ou seja, a reposição de rendimentos e de direitos está quase feita, mas isso não chega — é preciso investimento para virar a página também na economia e há exigências que vão continuar a dar (muito) trabalho, especialmente aos socialistas:

  • Rendimentos e poder de compra têm que continuar a crescer. Esta foi a base de todo o entendimento à esquerda e é nela que os partidos jogam o cumprimento e a manutenção do compromisso. O aumento das pensões, o fim da sobretaxa e a recuperação de alguns direitos da administração pública incluídos no OE 2017, assim como o previsto aumento do salário mínimo, são um bom motivo para PS, BE, PCP e PEV sorrirem, mas rapidamente vão querer mais;
  • Política fiscal mais justa e equitativa. Seja em grupos de trabalho (BE e PEV), seja em negociações directas (PCP), os partidos querem mais avanços na política fiscal, nomeadamente no IRS, com o alargamento dos escalões para se ter maior progressividade, diz Pedro Filipe Soares (BE);
  • Aumento do investimento público por via da aplicação dos fundos estruturais comunitários, que devem atingir agora a velocidade cruzeiro;
  • Assegurar a sustentabilidade do financiamento da Segurança Social é um tema que a esquerda terá que discutir a olhar para o relógio e para o cofre;
  • Discussão do futuro da dívida e da relação com a Europa. Partiram de pontos diferentes, mas chegaram à mesma conclusão: para BE e PCP é incontornável renegociar a dívida e isso deve ser feito o quanto antes para que não se torne novamente na forca do país. O PS admite discutir a dívida se e quando a questão se colocar a nível europeu. Mas bloquistas e comunistas não têm dúvidas: para continuar a aumentar rendimentos e direitos, para ter mais emprego e fazer a economia descolar, é preciso dinheiro. E onde está ele? Vai para pagar a dívida. Obtê-lo está nas mãos do PS, que tem que fazer opções, avisa João Oliveira (PCP);
  • Aposta nos serviços públicos, em especial nos transportes. Depois das reversões possíveis em processos de concessão e de privatização, há agora mais dotação orçamental para os transportes e a reorganização da gestão dos sistemas municipais em Lisboa e no Porto;
  • Maior entrosamento político. Houve momentos de azeda crítica política nos debates quinzenais no Parlamento, do BE e do PCP para o Governo, que deixaram António Costa incomodado; houve recados enviados nos comícios e, sendo 2017 um ano de autárquicas, é de esperar que subam de tom — se socialistas desejam uma moderação no discurso dos partidos à sua esquerda, estes fazem questão de mostrar que não perderam a sua identidade e autonomia política. Para João Galamba (PS), este ano mostrou que o acordo é “sólido e funcional” e conseguiu traduzir-se em resultados.
  • Maior atenção à sustentabilidade ambiental. A expectativa dos Verdes é que seja possível aplicar uma verdadeira estratégia para a promoção do transporte colectivo e de soluções mais ecológicas, e que se tomem medidas pela protecção da floresta, depois da repetição dos problemas com os fogos florestais do último Verão.
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