Fidel, um dos amigos barbudos de Maradona

A relação próxima entre "El Comandante” e “El Pibe” começou em 1987. No primeiro encontro, comeram ostras.

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Primeiro encontro entre Fidel e Maradona, com o então líder cubano a oferecer uma boina ao futebolista argentino REUTERS/Prensa Latina
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Maradona em 2001, com a boina oferecida e autografada por Fidel Reuters
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Fidel e Maradona em 1994 Reuters
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Maradona mostra a sua tatuagem a Fidel, em 2001 Reuters/STR
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Fidel e Maradona em 2005 Reuters
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Fidel foi o primeiro convidado do programa de TV de Maradona, em 2005 AFP/HO
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Fidel e Maradona em 2011 Reuters/HO

“Isto de estar vivo”, escrevia Diego Armando Maradona na autobiografia Eu sou El Diego, “tenho de agradecer ao Barbudo (Deus) e… ao Barbudo (Fidel).” O futebol nunca esteve no topo das preferências desportivas de Fidel Castro (era o basebol), mas isso nunca impediu Maradona de ter uma devoção quase religiosa por ele. E essa devoção estava literalmente à flor da pele, com uma tatuagem de Fidel na perna esquerda. Fidel retribuía essa admiração chamando a Maradona o “Che do desporto”, e abriu as portas de Cuba para que o astro argentino se tratasse da toxicodependência. E quando soube que Fidel tinha morrido, Maradona disse que ele foi o seu “segundo pai”.

Foi uma relação de proximidade e afinidades revolucionárias. Fidel oferecia-lhe bonés militares, Maradona retribuía com camisolas com o número “10” nas costas. Durante anos, trocaram cartas, e Fidel foi mesmo o primeiro convidado de Maradona no primeiro programa de um “talk show” de curta duração, La Noche del 10. Maradona chegou mesmo a ser aquele que garantiu ao mundo em 2015 que Fidel não tinha morrido quando os rumores da morte do antigo líder cubano circulavam com grande intensidade.  

O primeiro encontro aconteceu em Havana, a 28 de Julho de 1987, quase um ano depois de a Argentina ter conquistado o título no Mundial do México, em 1986. Falaram de futebol e, segundo Maradona, Fidel confessou que tinha sido futebolista na juventude como “ponta direita”. “Devia ter sido ponta esquerda”, respondeu Maradona. Nesse primeiro encontro, beberam uns copos, comeram “ostras espectaculares” e Fidel até terá trocado receitas de cozinha com a mãe de Maradona. Esse encontro acabou com Fidel a colocar uma boina (autografada) na cabeça de Maradona. Em 1994, voltaram a encontrar-se e, desta vez, Maradona tinha uma prenda para final, a camisola “10” da selecção argentina, que acabaria por ir para um museu.

Em 2000, já Maradona tinha deixado de jogar futebol, mas os vícios continuaram com ele. “El Pibe” foi para Havana em busca da reabilitação e ficou vários meses internado numa clínica cubana. É por isto que Maradona olha para Fidel como o seu salvador. Poucas semanas antes, Maradona estivera internado num hospital no Uruguai, em que os médicos lhe disseram que tinha o coração a funcionar a 38%, consequência de anos de consumo de álcool e cocaína. “Tudo o que ele fez por mim não tem paga”, dizia Maradona na autobiografia.

Claro que este foi também um tremendo golpe de publicidade para o regime de Fidel, que terá bancado todo o tratamento a Maradona. Ao longo dos anos, Fidel e Maradona encontraram-se várias vezes, algumas delas com a companhia de outros líderes sul-americanos, como Evo Morales, da Bolívia, ou Hugo Chávez, da Venezuela, e essa proximidade ficou bem vincada no documentário de 2008 Maradona by Kusturica.

Maradona sempre mostrou grande afinidade pela revolução cubana. Para além da cara de Fidel na perna esquerda, tem o rosto de Che Guevara está no seu ombro direito, que fez quando estava no Nápoles. “Também sou um rebelde neste mundo”, dizia Maradona em 2000. De Che só conheceu a lenda, com Fidel ficava “nervoso de emoção” sempre que se encontravam. “Morreu o meu amigo, o meu confidente, o que me dava conselhos e que me ligava a qualquer hora para falar de política, de futebol, de basebol (…). Como nunca se enganou, para mim Fidel é, foi e será eterno, único, o maior. Doi-me o coração porque o mundo perdeu o mais sábio de todos.”

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