UE tem de ter respostas para os “marginalizados da globalização”

Uma forma de o fazer, defende a secretária de Estado, é garantir “objectivos quantificados comuns em políticas sociais ou de Estado de Direito”.

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UE tem de ter respostas para os “marginalizados da globalização” São José Almeida, Sibila Lind

Margarida Marques defende que a União Europeia tem de dar respostas aos “excluídos da globalização”. Uma forma de o fazer, defende, é garantir “objectivos quantificados comuns em políticas sociais ou de Estado de Direito”.

Quais as consequências da iminência da saída do Reino Unido, depois do Brexit?
São indiscutíveis as dificuldades que a Europa atravessa internamente com o Brexit. É importante que o Reino Unido tenha decidido que fará uma transposição progressiva de todo o acervo comunitário para a legislação nacional. Há alguns elementos novos que nós conseguimos identificar [na visita a Londres com o Presidente], como por exemplo, o interesse do Reino Unido em negociar do lado da UE no contexto mundial as políticas comerciais e as de defesa e de segurança.

O referendo em Itália pode levar à queda de Matteo Renzi, não teme que isso venha a afectar o futuro da UE?
A nossa expectativa é que, no referendo, o povo italiano vote favoravelmente a reforma constitucional. Era muito bom para a Europa que o referendo fosse positivo e não perturbasse o funcionamento do governo italiano. Há evidentemente expressões da vontade popular que têm sido perturbadoras do funcionamento do sistema político. Há lições que têm que ser tiradas. Uma questão fundamental com a qual a UE é confrontada hoje é que tem ge ter como destinatários das suas políticas cada vez mais aqueles que são os excluídos da globalização. Por exemplo, não é normal que haja objectivos quantificados comuns em matéria orçamental, défice, dívida, etc. e não haja objectivos quantificados comuns em políticas sociais ou de Estado de Direito. E os cidadãos têm expectativa de que a UE lhes dê segurança do ponto de vista da luta contra o terrorismo, mas também segurança do ponto de vista social, do seu emprego, do rendimento mínimo, do seu direito à pensão. Hoje é claro que nas sociedades europeias e nos EUA - as eleições americanas são o reflexo disso - há franjas largas da sociedade, os excluídos da globalização.

Que são atraídos pelo populismo?
E que são facilmente mobilizáveis pelo discurso populista.

Teme que o populismo possa vir a vencer o projecto europeu?
Claro que temo. Mas não podemos fechar os olhos a essas realidades. O acréscimo recente dos movimentos e dos partidos populistas é perturbador e é cada vez mais visível. É por isso que é preciso repensar como é os governos, as lideranças políticas, como é que as políticas europeias lidam com essa realidade.

É um certo autismo europeu que tem aberto campo ao populismo?
Não acho que seja autismo, talvez seja um certo facilitismo nas lideranças políticas europeias de irem atrás das opiniões públicas que se têm vindo a criar e dos movimentos populistas, mais do que governar e apresentar resultados que contrariem essas opiniões públicas. A UE deve ter uma estratégia de comunicação que permita que os cidadãos percebam quais são as políticas europeias, mas a UE também deve perceber quais são as expectativas dos cidadãos. Mas não há política de comunicação que esconda as más políticas e a prioridade está em políticas que possam apresentar resultados para aqueles que progressivamente têm sido marginalizados da globalização.

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