Que política externa de segurança e defesa com Trump?

Um elemento estruturante do pensamento do presidente-eleito Donald Trump aparenta ser uma visão negocial das questões. Isso deverá conduzir a alterações significativas na política externa de segurança e defesa face ao que se tem verificado.

A eleição de Donald Trump para a Presidência dos EUA trará seguramente importantes alterações para esse país e para a ordem internacional. A situação no plano internacional merece particular atenção, dadas as consequências que a sua política externa de segurança e defesa poderão ter em termos de segurança internacional. Sendo menos interventiva do que a do seu antecessor, deverá ser mais arriscada e menos previsível.

Trump aparenta ter uma visão transacional e pragmática das questões. Assim sendo, poderá encarar as relações internacionais como situações transacionais, combinando, fundamentalmente, poder e capacidade de negociação. Nesse âmbito, poderá exigir aos países com quem os EUA têm boas relações que contribuam mais em relação aos benefícios que colhem. O caso da NATO merece destaque. A NATO é uma organização internacional de segurança coletiva, que resulta de uma aliança política e militar criada após o fim da 2ª Grande Guerra com os objetivos de travar o expansionismo soviético e fomentar a integração europeia. Mas ainda hoje, apesar dos seus 28 Estados membros, é maioritariamente financiada pelos EUA, com 73% do total das despesas de defesa. Tal não significa que financiem essa percentagem dos custos totais, pois existem outros custos, designadamente, as instalações do Quartel-General em Bruxelas e outros comandos militares. Mas ainda assim, é representativo do peso relativo norte-americano no total.

Os EUA poderão tentar que haja uma maior contribuição financeira por parte dos outros Estados membros. Isso até pode ser considerado legítimo. Diferentemente, e também relativo à NATO, a possibilidade de colocar em causa o Artº 5 do Tratado de Washington: seria um tema problemático e até perigoso. O Artº 5 é um princípio fundamental da organização. Determina que um ataque contra um dos seus membros é considerado como um ataque contra todos, e dará lugar a uma resposta coletiva. Uma alteração a este princípio alteraria consideravelmente vários equilíbrios regionais, podendo ter implicações de segurança graves, e causando alarme nos países do leste da Europa que são membros da NATO. Uma consequência poderia ser Putin considerar menos arriscado tomar certas ações, designadamente na Ucrânia, mas não só.

Mas Trump poderá também tentar estabelecer um relacionamento deste tipo com a Rússia, reconhecendo até a anexão da Crimeia como instrumento de negociação. Um destes casos é o Médio Oriente, muito particularmente em relação às situações no Iraque e na Síria, que são as mais problemáticas atualmente. E nesse âmbito, poderá também considerar que a presença no poder de Bashar al-Assad tem mais hipóteses a prazo de estabilizar a Síria com a ajuda da Rússia. É também possível que favoreça situações menos democráticas em determinados países, semelhante ao que ocorre no Egito. No combate ao Daesh, e tendo em consideração que o terrorismo é também uma grande preocupação da Rússia, procurará possibilidades de cooperação e entendimento. Mas globalmente, e de uma forma geral, os riscos deste tipo de política serão elevados, porque Putin tem uma grande experiência na matéria e também não gosta de perder.

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