Trump: artista pede que museu inverta a sua obra para baixar punhos erguidos

Annette Lemieux pediu ao Museu Whitney para mudar a disposição de Left Right Left Right após as eleições.

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Whitney Museum of American Art

Os punhos estavam erguidos, agora estão invertidos. A artista plástica Annette Lemieux pediu esta semana ao Museu Whitney de Nova Iorque que a sua obra Left Right Left Right, que mostra uma série de imagens de punhos erguidos, um símbolo de protesto, fosse virada ao contrário na sequência da eleição de Donald Trump como próximo Presidente dos EUA.

O museu colocou o vídeo da transformação no Twitter e no Facebook na quinta-feira, mostrando a obra de 1995 — 30 imagens de punhos erguidos apoiadas em varas que sugerem o uso de cartazes em manifestações — a mudar de disposição. A peça, que comenta o papel do protesto e das manifestações na esfera pública, integra a exposição Human Interest: Portraits from the Whitney’s Collection. Lemieux é americana e pertence à geração e à corrente da Pictures Generation de Cindy Sherman, Barbara Kruger ou Richard Prince e é professora em Harvard. O seu trabalho está presente nas colecções de alguns dos mais importantes museus do mundo, do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque ao Victoria & Albert de Londres.

“O gesto de Lemieux sugere um empenho individual, o poder continuado do protesto e o sentimento, nas suas próprias palavras, de que ‘o mundo foi virado ao contrário’”, indica a instituição cultural na sua conta de Facebook. E como detalha o Whitney na sua descrição da peça, que faz parte da colecção do museu, as imagens vêm de jornais e revistas e são punhos anónimos, de marinheiros e sacerdotes, ou que pertencem a figuras conhecidas – não só Martin Luther King, Jr., mas também Richard Nixon, Jane Fonda e uma Miss América.

Algumas imagens são repetidas e apresentadas de forma diferente, indicando “que os protestos – e os temas políticos e ideológicos que os originam – são mais complexos e abarcam visões contraditórias”, lê-se ainda. O motivo da sua presença e do gesto é desconhecido e, descontextualizado, está aberto a interpretação.

O resultado das eleições, num ano em que grande parte do apoio público da comunidade artística, das artes plásticas às performativas, foi para a candidata democrata derrotada Hillary Clinton (de Katy Perry a Jeff Koons, Chuck Close ou Marina Abramovic e Shepard Fairey, contra apoiantes de Trump como Stephen Baldwin, Steven Segal ou Jon Voight), tem merecido comentários vários do sector. No dia seguinte, de todo o mundo vieram reacções de tristeza como a de Wolfgang Tillmans e um singelo post no Instagram de uma imagem da Estátua da Liberdade a chorar, ou assumpções de responsabilidade como a de Olafur Eliasson, que nas redes sociais admitiu: “Como artista, percebo que nós no sector cultural não nos dirigimos adequadamente aos sentimentos de frustração que muitas pessoas de muitas nacionalidades – incluindo (…) muitos americanos – acalentam em relação às suas estruturas sociais.”

Mais recentemente, num apanhado do Huffington Post sobre “o que significa ser artista na era Trump”, a artista plástica Natalie Frank diz que “o desespero se tornou raiva, o que é uma ferramenta maravilhosa para ajudar à mobilização”, ecoando palavras de que a contrariedade é uma oportunidade para a criação. Outra artista, a performer Emma Sulkowicz, discorda dos que “acreditam que agora todos temos de fazer arte sobre Donald Trump” e defende que haja foco em temas específicos, como a “misoginia”, exemplifica.

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