Se Dylan não vai ao Nobel, o director da Fundação Nobel vai entregá-lo a Dylan

O cantor vai estar na Suécia em 2017 e era mesmo "uma ocasião perfeita para fazer o seu discurso" de aceitação do Nobel da Literatura. Mas o director da Fundação já disse que é um dos "voluntários para lhe ir entregar o prémio”.

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Istvan Bajzat/afp

A saga continua: a Academia Sueca deu o Nobel da Literatura a Bob Dylan, este não reagiu durante dias, agradeceu depois e anunciou que não estaria na cerimónia de entrega do prémio em Dezembro. Agora, a Academia veio lembrar que o cantautor estará em Estocolmo na Primavera, “uma ocasião perfeita para fazer o seu discurso”. Se não, o director-executivo da Fundação Nobel já ironizou que é um de vários voluntários que podem “ir entregar-lhe o prémio”.

Depois de Dylan ter dito que estaria “seguramente” na entrega do Nobel, mas “desde que seja possível”, e depois ter recuado e ter dito que tinha “outros compromissos”, agora a notícia de que o músico norte-americano estará na capital sueca no início de 2017 mereceu um comentário da Academia. Em comunicado emitido esta sexta-feira, a Academia Sueca informou que há “fortes hipóteses de que o laureado venha a Estocolmo no próximo ano”.

Depois, “o seu manager confirmou-mo”, disse Sara Danius, a secretária permanente da Academia Nobel, à rádio pública sueca, a SR, citada por seu turno pela AFP.

A presença do novo Nobel da Literatura em Estocolmo, cidade-sede da Academia Nobel, era a “ocasião perfeita” para que Dylan cumprisse o protocolo que consiste em apresentar um discurso, uma “lição” ou algo similar — “pode ser um discurso, um vídeo ou outra apresentação”, disse Sara Danius sobre o rito comum a todas as categorias da distinção.

A cerimónia decorre tradicionalmente a 10 de Dezembro, aniversário de Alfred Nobel, em cuja honra o prémio foi criado, e na semana que precede a cerimónia de entrega dos galardões os laureados proferem a sua “lição”. O caso do primeiro músico a receber o Nobel da Literatura foi uma surpresa e um tema de debate nos meios culturais, mas também se tem revelado uma história sem fim à vista sobre a relação de Bob Dylan com o prémio e seus ritos.

Não é um caso como o de Jean-Paul Sartre, que em 1964 recusou o Nobel. Mas embora também não seja caso único — Doris Lessing, Harold Pinter ou Elfriede Jelinek não compareceram à entrega do Nobel da Literatura por motivos de saúde, Alice Munro foi representada pela filha e até já estiveram na cerimónia agentes literários em representação de premiados —, a postura esquiva de Bob Dylan já suscita a ironia entre os dirigentes da Fundação Nobel. O seu director-executivo, Lars Heikensten, veio a público também esta sexta-feira dizer que “em última instância” há voluntários para lhe ir dar o galardão. “Ofereci-me como voluntário para lhe ir entregar o prémio”, disse num encontro com a imprensa em Madrid no âmbito de um evento organizado por duas fundações ligadas à Ciência. Mas, desdramatizou, “não há problema” com Dylan.

“Não lhes perguntamos se querem o prémio”, esclareceu ainda, “impomos-lhes o prémio quer eles queiram, ou os seus governos, quer não”, disse o responsável da fundação — “talvez tenhamos complicado um bocadinho a vida a Bob Dylan ao dar-lhe o prémio”. Heikensten admitiu ainda, citado pela agência de notícias espanhola Efe, que ficou “um pouco” preocupado quando não houve reacção do premiado à distinção, mas lembrou novamente que outros premiados não foram a Estocolmo receber o Nobel. 

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