Sinais de viragem na política monetária pressionam Portugal

Taxas de juro dos países periféricos do euro continuaram esta quinta-feira a subir, com os mercados a anteciparem o que pode acontecer se o BCE reduzir os seus estímulos.

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Janet Yellen, da Fed, prepara-se para subir taxas em Dezembro AFP/WIN MCNAMEE

Os países do Sul da Europa, incluindo Portugal, continuaram esta quinta-feira a ser as principais vítimas da ideia de que se pode estar a chegar ao fim do período de taxas de juro próximas de zero nas maiores economias mundiais.

Prolongando uma tendência que se faz sentir de forma bastante intensa desde a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, as taxas de juro da dívida pública de Portugal, Espanha e Itália voltaram a subir. No caso português, os títulos de dívida a 10 anos aproximaram-se mais um pouco da barreira dos 4%, subindo mais 0,057 pontos para 3,733%, de acordo com dados publicados pela Reuters.

A 8 de Novembro, dia das eleições nos Estados Unidos, a taxa das Obrigações do Tesouro (OT) portuguesas a 10 anos estava nos 3,216%, mais de meio ponto percentual abaixo do que actualmente. No mesmo período, os juros espanhóis e italianos também subiram consideravelmente, embora na casa dos 0,35 pontos percentuais, um pouco menos face a Portugal.

O que pode explicar estes resultados, especialmente quando no caso português a subida de taxas coincidiu com um período em que o país  conseguiu uma avaliação positiva da Comissão Europeia ao seu orçamento e viu a economia acelerar fortemente no terceiro trimestre?

A explicação é a de que, sempre que há notícias que apontam para o fim do período de taxas de juro muito baixas e para a diminuição do estímulo oferecido pelo Banco Central Europeu às economias da zona euro, a reacção automática dos investidores é reduzirem, em primeiro lugar, a exposição à Europa periférica, com Portugal (para além da Grécia) sempre colocado na linha da frente.

Neste momento, os sinais de alívio das políticas de expansionismo monetário vêm dos Estados Unidos. Tanto do lado da Fed - Janet Yellen deixou esta quinta-feira claro que uma subida de taxas pode acontecer “relativamente cedo” – como dos futuros responsáveis pelo governo federal.

Apesar de a incerteza ainda ser o sentimento dominante dos mercados em relação aos impactos económicos da eleição de Donald Trump, uma ideia que se tem vindo a impor é a de que será colocado em prática um programa ambicioso de investimento em infra-estruturas e uma redução de impostos.

Estas medidas podem ter como efeito de curto prazo uma dinamização da economia, um aumento das necessidades de financiamento federais e uma subida da inflação. Perante um cenário dessa natureza, a Fed poderá ver-se forçada a subir taxas de juro de forma mais rápida do que aquela que era antes prevista.

É por isso que, desde o passado dia 8 de Novembro, as taxas de juro dos títulos de dívida pública norte-americanos subiram e o dólar apreciou-se face às outras principais divisas mundiais, como o euro.

Com o euro a perder terreno face ao dólar, o que acontece é que o BCE fica também com menos motivos para reforçar, ou mesmo prolongar, a sua política de estímulos. E é isso que, em última análise, faz com que as dívidas dos países periféricos do euro sofram. É nos países como Portugal que o efeito da acção do BCE – através de taxas de juro baixas e do programa de compra de dívida – é visto como mais importante.

No caso de Portugal, que desde o início de Outubro (quando se tornou evidente que a DBRS não iria baixar o seu rating) até vinha registando uma descida das taxas de juro mais significativa do que a de Espanha ou Itália, a reacção dos mercados à possibilidade de uma atitude menos interventiva do BCE pode servir de alerta para aquilo que pode acontecer se em Frankfurt se decidir voltar a um cenário de taxas de juro mais altas. 

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