Marta Alves dá aulas numa das melhores universidades do mundo

Na Domus Academy, em Milão, Marta Alves é assistente académica na área do design de produto. A instituição foi considerada a melhor universidade do mundo na categoria “Learning Experience” pela “Business of Fashion”

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Marta Alves, de 30 anos, nasceu no Peso da Régua e estudou engenharia no Porto Fabio Pugliese

Quando decidiu estudar design, Marta Alves já tinha trabalhado vários anos como engenheira industrial e de gestão, na Portugal Telecom. Um MBA era o caminho natural para quem queria continuar a formação académica, mas a ideia não agradava à jovem do Peso da Régua. Não queria continuar no ramo executivo e, por isso, tirou um ano para pensar se o design seria a alternativa ideal. Isto foi em 2011, ano em que aprendeu a língua italiana e se inscreveu em design industrial no Instituto Politécnico de Milão. Cinco anos depois, Marta é professora assistente na Domus Academy, na mesma cidade italiana. Esta instituição de ensino superior foi considerada a melhor universidade do mundo na categoria “Learning Experience” nos “Global Fashion Schools Ranking 2016”, promovidos pela “Business of Fashion”.

“Acabei o curso em Fevereiro [de 2016] e, no dia anterior à defesa da tese, recebi uma chamada da Domus Academy. Tinha-me candidatado a uma posição aberta para assistente académica de design”, conta Marta, ao P3, via Skype. A entrevista correu bem e, um mês depois, estava a dar aulas de design de produto e interior. “Está a ser um desafio muito interessante”, diz . “Sabia que ia gostar de estar deste lado [do processo de ensino].” Tal como Marta, que se formou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, também muitos dos alunos da Domus Academy já fizeram outros cursos e trabalharam antes. “Têm uma maturidade e uma capacidade projectual interessantes, permite-nos trabalhar como se estivéssemos em ambiente de design de estúdio”, compara.

“Os designers são sempre a ponte entre o real e o que vai existir”, reflecte Marta. Nos módulos que orienta, estimula o “’design thinking’ e a capacidade de imaginar o impossível”. Os estudantes são postos em contacto com empresas que desenvolvem produtos e fazem “trabalhos de aprofundamento de conhecimentos ou tecnologias de produção”. Os produtos que resultam destes “workshops” podem variar muito: o último foi de cariz social, em parceria com a Ikea e uma associação para crianças com deficiências físicas e mentais. “Desenvolvemos complementos de mobiliário para os produtos da Ikea (…) que permitiam às crianças utilizarem-nos com as necessárias adaptações.”

Em Itália desde 2012, Marta Alves colaborou com o estúdio de design Connexpo e com o Instituto Politécnico de Milão. Por agora, está “muito concentrada no ensino” — o trabalho em estúdios de design vai ficar para depois, quando “consolidar a carreira académica” que está a iniciar. “Gostava de desenvolver o meu percurso académico com alguma pesquisa ou reflexões sobre crítica de design”. Milão, acredita, “é mesmo o sítio certo para estar quando estás ligado ao design”: “Todo o século XX [foi] dedicado ao crescimento desta coisa chamada design — que significa projecto — e, enquanto disciplina, crescia e se tornava cada vez mais madura e consistente”.

Aos estudantes portugueses que estudam design, Marta aconselha: “ler muito, estudar muito, trabalhar”. “Perceber, olhar com muita atenção, observar tudo e aproveitar todas as oportunidades. E, se não as houver, ter força para as criar.” Sobre o panorama do design em Portugal, a docente universitária admite não ter tanta informação quanto desejava. “É bom que as coisas estejam a acontecer, vê-se que o país quer ser activo, mas é fundamental continuar a investir em educação”, pensa.

Num futuro ideal, a jovem gostava de viver em Portugal e em Itália ao mesmo tempo, num arranjo “híbrido”. “É sempre uma estranha sensação: sou sempre estrangeira e também já não sou só portuguesa. Há uma zona cinzenta que depois se revela em pequenos detalhes como me faltarem palavras.”

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