Em 2100, a maioria dos falantes de português será africana

O Novo Atlas da Língua Portuguesa, lançado esta terça-feira pelo ISCTE em edição bilingue, quer ser “um cartão-de-visita” da língua e da comunidade dos países lusófonos.

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Mapa da Ásia de Fernão Vaz Dourado, 1571, ao longo da costa asiática, os portugueses foram deixando vestígios da sua língua que ainda hoje subsistem dr

Se as projecções demográficas das Nações Unidas vierem a confirmar-se, o número de falantes de português no mundo não só aumentará substancialmente - serão 387 milhões em 2050 e 487 milhões no final do século -, como a geografia da língua se alterará de forma radical com o brutal crescimento demográfico previsto para Angola e Moçambique, que no seu conjunto somarão 266 milhões de habitantes em 2100, muito acima dos 200 milhões estimados para o Brasil. 

Este é um dos dados mais surpreendentes do Novo Atlas da Língua Portuguesa organizado pelo ISCTE, que é lançado esta terça-feira à tarde (às 16h30) no Palácio das Necessidades e que conta com um extenso prefácio do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

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Publicado em edição bilingue português-inglês, o livro pretende funcionar como um cartão-de-visita do português e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) à atenção de um mundo onde o português está a expandir-se, sendo já hoje a quarta língua mais falada (atrás do mandarim, do espanhol e do inglês), e a quinta mais utilizada na Internet, depois do inglês, do chinês, do espanhol e do árabe. E se nos cingirmos às redes sociais, o português é a terceira língua do Facebook (só perde para o inglês e o espanhol) e a quinta do Twitter. Números de 2012 indicam que S. Paulo era então a cidade onde mais se “tweetava”, logo a seguir a Jacarta, Tóquio e Londres, e acima de Nova Iorque ou Los Angeles.

“Mais do que uma obra académica, quisemos fazer um livro de divulgação e afirmação da língua portuguesa em termos globais, e daí termos optado por uma edição bilingue português-inglês”, diz Luís Antero Reto, reitor do ISCTE e co-autor deste atlas com outros dois professores e investigadores do Instituto, o sociólogo Fernando Luís Machado e o economista José Paulo Esperança. “Faltava um livro que funcionasse como um cartão-de-visita da língua portuguesa e da CPLP no mundo”, acrescenta Luís Reto, que já lançara em 2012 o volume Potencial Económico da Língua Portuguesa e prepara agora, com a sua equipa do ISCTE, uma nova obra, cujo título provisório é Português, Língua Global: Economia e Política de Língua.

Editado em colaboração com o Instituto Camões, o Novo Atlas da Língua Portuguesa está dividido em grandes temas, da história da língua à sua geografia e demografia, do ensino do português no mundo à expressão económica dos países de língua portuguesa, do português como língua de cultura, ciência ou negócios à sua presença na Internet. Outro tópico investigado é o das migrações humanas nos países lusófonos. Para cada um deles, o atlas enumera os dez principais países de origem dos imigrantes e os dez principais destinos dos emigrantes. No caso de Portugal, a comunidade imigrante mais numerosa é a brasileira (um pouco mais de 120 mil pessoas), e o top ten inclui mais quatro países lusófonos: Cabo Verde (2.º), Guiné-Bissau (4.º), Angola (5.º) e S. Tomé e Príncipe (9.º). Os restantes são três países do leste europeu (Ucrânia, Roménia e Moldávia), a China e o Reino Unido.

A França continua a ser o principal país de destino da emigração portuguesa (mais de 713.000), seguida dos Estados Unidos, Suíça, Brasil, Canadá, Angola, Espanha, Reino Unido, Alemanha e Luxemburgo.

Menos vulgar numa obra deste tipo é o capítulo Língua como Património Comum, que consiste numa antologia de autores de oito países de expressão portuguesa, com excertos das respectivas obras, que em alguns casos tiveram mesmo de ser traduzidos para inglês porque não existiam traduções disponíveis.

Numa obra de divulgação que também se destina ao exterior do espaço lusófono, justifica-se o capítulo dedicado a personalidades que se distinguiram em diversas áreas, como os prémios Nobel de língua portuguesa - Egas Moniz, Ramos-Horta, Ximenes Belo e José Saramago -, os prémios Pritzker (Oscar Niemeyer, Álvaro Siza, Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Souto de Moura), os cineastas premiados nos grandes festivais de cinema, como Manoel de Oliveira ou os brasileiros Anselmo Duarte, Walter Salles e José Padilha, os vencedores de prémios Grammy, como António Carlos Jobim ou a cantora brasileira Maria Rita, e ainda os desportistas lusófonos que foram campeões olímpicos.

Nem sequer foram esquecidos os falantes de português com mais fãs no Facebook, liderados por Cristiano Ronaldo com mais de 112 milhões de seguidores. Oito são brasileiros, e só quatro não são futebolistas: o escritor Paulo Coelho, o apresentador de televisão Luciano Huck e os cantores Luan Santana e Aline Barros.

O desejo de Luís Reto era agora conseguir que este atlas se tornasse no futuro um portal na Internet, que “coligisse sistematicamente dados sobre a língua e a comunidade lusófona”, desejavelmente apoiado numa equipa transnacional.

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