Dois candidatos à liderança do PSD-Açores

Os ecos da derrota social-democrata nas regionais de Outubro ainda se ouvem no partido, com a liderança de Duarte Freitas a ser posta em causa. Paulo Silva, militante de base, anunciou esta semana a candidatura à presidência do PSD-Açores.

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Duarte Freitas perdeu a aposta nas urnas nas regionais açorianas RUI SOARES

Com as eleições directas marcadas para 19 de Dezembro, a contestação à liderança de Duarte Freitas no PSD-Açores sobe de tom. No rescaldo das regionais que voltaram a dar a quinta maioria absoluta ao PS, a estratégia adoptada pela liderança sofre críticas de vários quadrantes.

Essa contestação tem um rosto — Paulo Silva, militante de base, anunciou esta semana a candidatura à presidência do partido, para reestruturar, reorganizar e agregar o PSD-Açores.

“O partido, que tem a vitória no seu ADN, está cada vez mais isolado. Sempre teve um grande peso no poder local, não pode continuar assim”, argumenta ao PÚBLICO o empresário de 47 anos. Mais do que apontar o dedo a Duarte Freitas — a quem não iliba de responsabilidades pelos últimos resultados —, quer pôr o PSD-Açores a reflectir sobre as causas dos desaires eleitorais.

“A nossa candidatura não é contra Duarte Freitas. É uma candidatura do partido para o partido”, resume, defendendo a necessidade de fazer regressar os militantes que têm andado afastados do partido. “Temos pessoas, excelentes quadros, que contam com um capital político gigantesco na região, no país e mesmo na Europa. É preciso trazê-los de novo para o partido e aprender com eles”, diz Paulo Silva, que já foi candidato à liderança da JSD-Açores.

Assumindo uma candidatura por dois anos, Paulo Silva diz que neste momento o importante para o PSD é ser “oposição credível” para enfrentar as autárquicas de 2017 com confiança. Entre as propostas da candidatura constam a criação de um senado que reúna antigos deputados, ex-governantes, presidentes do partido e autarcas, e a realização de eleições directas, ilha a ilha, para a escolha dos candidatos ao poder local.

Já Duarte Freitas diz-se tranquilo. O líder social-democrata, que pegou no partido em 2013, tem lido e ouvido as críticas “dos mesmos de sempre” na comunicação social, e convida-os a apresentarem-se. “São sempre os mesmos que, com a cobertura da imprensa, criticam o partido”, aponta ao PÚBLICO, dizendo que as eleições directas é altura certa para se constituírem como alternativa. “É um processo democrático e natural”, sublinha.

Duarte Freitas apostou tudo na vitória nas regionais de Outubro e na mudança do ciclo político do arquipélago, governado desde 1998 pelo PS. Acabou por ser o grande derrotado da noite. O PSD obteve o segundo pior resultado de sempre em regionais e foi a única força política da oposição a perder votos e mandatos.

Ainda na campanha, vincou que a continuidade não estava dependente dos resultados, e, por isso, “naturalmente” que se recandidata, mas não se livra das críticas. Muitos militantes não lhe perdoam a “falta de estratégia”, apontam a “dificuldade em fazer passar a mensagem” e lembram que a renovação que fez nas listas provocou fracturas.

“Neste momento, o PSD-Açores deixou de ser relevante em matérias estruturais para a região”, fez notar ao PÚBLICO o ex-parlamentar social-democrata Pedro Gomes, referindo-se ao equilíbrio de forças na assembleia açoriana.

Pedro Gomes defende que houve falta de estratégia e de propostas que fossem ao encontro da população. O ex-deputado tem sido também apontado como candidato à liderança. Mas, para já, não equaciona avançar. “Em política nunca podemos dizer nunca, mas neste momento as condições — vontade pessoal, disponibilidade dos militantes e conjuntura política — não estão reunidas.”

Igualmente fora da corrida, mas bastante crítico, está José Andrade. Este jornalista, que durante os últimos quatro anos ocupou um dos lugares do PSD no parlamento regional, questiona: “A culpa é da mensagem ou do mensageiro?”

A resposta, para Andrade, é simples. “Duarte Freitas é um líder de fracos resultados”, afirma, dizendo que a recandidatura responde mais a “interesses pessoais” do que às necessidades do partido.

As eleições directas estão marcadas para 19 de Dezembro, seguindo-se o congresso regional do PSD-Açores agendado para os dias 20, 21 e 22 de Janeiro. O prazo para apresentação de listas decorre até 5 de Dezembro.

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