Um violino aberto ao passado e ao presente da música

Russa Alina Ibragimova, Artista em Associação do festival À Volta do Barroco, estreia-se na Casa da Música com três concertos.

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Alina Ibragimova no seu primeiro ensaio na Sala Suggia Nelson Garrido

Está a chegar ao fim o Ano Rússia na Casa da Música. E aquele que é o festival mais antigo da instituição, À Volta do Barroco, cuja 12.ª edição começa esta sexta-feira, vai ter este país bem representado no programa. Ouvir-se-ão obras de Chostakovitch, Dmitri Bortnianski, Vasily Titov, Alfred Schnittke e de compositores da corte de Catarina, a Grande. E o Porto vai receber, pela primeira vez, a visita da jovem violinista Alina Ibragimova, de 31 anos, que é a Artista em Associação do festival.

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Está a chegar ao fim o Ano Rússia na Casa da Música. E aquele que é o festival mais antigo da instituição, À Volta do Barroco, cuja 12.ª edição começa esta sexta-feira, vai ter este país bem representado no programa. Ouvir-se-ão obras de Chostakovitch, Dmitri Bortnianski, Vasily Titov, Alfred Schnittke e de compositores da corte de Catarina, a Grande. E o Porto vai receber, pela primeira vez, a visita da jovem violinista Alina Ibragimova, de 31 anos, que é a Artista em Associação do festival.

“Porque estamos no Ano Rússia, convidámos Alina Ibragimova, que além de ser uma grande virtuosa tem também a característica notável de tocar tanto violino barroco como violino moderno”, diz António Jorge Pacheco, director artístico da Casa, a justificar a presença da instrumentista russa, radicada em Londres desde os dez anos.

Alina Ibragimova vai actuar em metade dos seis concertos que fazem o programa À Volta do Barroco. O primeiro, esta sexta-feira à noite (21h), marca o seu reencontro com o maestro titular da Orquestra Sinfónica do Porto (OSPCM), Baldur Brönimann – com quem já trabalhou em Inglaterra –, a tocar o Concerto para violino e orquestra n.º 1, de Chostakovitch.

“É um dos maiores concertos para violino e orquestra jamais compostos”, disse a violinista ao PÚBLICO no final do ensaio de quinta-feira, pouco após a sua chegada ao Porto, onde se mostrou rendida à arquitectura da Casa e à luz da Sala Suggia. “É um concerto incrivelmente duro: trata da política, do sofrimento humano, uma espécie de loucura, mas também fala de amor e de esperança”, acrescenta.

No concerto que vai fazer no domingo, a solo, Ibragimova vai interpretar obras de Heinrich Biber, J.S. Bach, Bela Bartók e Luciano Berio, ou seja, um arco temporal e estético que vem do período barroco até à música contemporânea – o que é, de resto, uma das características programáticas deste festival desde o seu início, “não ficar no período histórico convencionado do barroco (1600-1750), mas ir mesmo mais atrás, e acompanhar o seu reflexo e a sua herança nos séculos seguintes”, nota António Jorge Pacheco.

Além do seu violino moderno, Ibragimova admite que poderá usar também nesta sua segunda actuação um instrumento barroco (um Anselmo Bellosio, ca. 1775, cedido por Georg von Opel). E vai usá-lo seguramente no concerto de encerramento do festival (20 de Novembro), com a Orquestra Barroca Casa da Música dirigida por Laurence Cummings, interpretando peças novamente de Bach, mas também de Vivaldi, Bortnianski e Baldassare Galuppi.

Como é que se passa, num mesmo concerto, de Bach a Berio, e qual a diferença entre um instrumento antigo e um instrumento actual? Ibragimova responde que “a diferença está principalmente no som, e no modo como o tiramos do instrumento”. E admite que normalmente “é mais fácil, porque mais natural, tocar num violino barroco”, mas acrescenta que “também é possível imitar o som antigo num violino moderno”.

Nascida na cidade russa de Polevskoy, em 1985, Alina Ibragimova radicou-se em Londres com apenas dez anos, acompanhando o pai, contrabaixo principal na London Symphony Orchestra, depois de iniciar a sua formação musical na Escola Gnesin, em Moscovo. Na capital inglesa, frequentou a Yehudi Menuhin School e o Royal College of Music. Integrou o programa BBC New Generation Artists Scheme 2005-7, e entre os vários prémios que recebeu inclui-se o Royal Philharmonic Society Young Artists.

Actou nos principais palcos de todo o mundo, e possui já uma carteira discográfica com registo de obras de compositores como Bach (sonatas e partitas para violino), mas também do alemão Karl Amadeus Hartmann, do polaco Karol Szymanowki, ou do russo Nikolai Roslavets. Este é um dos compositores, do século XX, que Ibragimova lamenta ter sido praticamente ignorado no período soviético. “E há muitos outros compositores que foram um pouco esquecidos; hoje, temos a obrigação de os dar a conhecer melhor, para além das obras de Tchaikovski ou de Prokofiev, que continuam a ser muito tocadas em todo o mundo”, diz a violinista.

Na corte de Catarina, a Grande

A outra metade do programa de À Volta do Barroco vai mostrar, em estreia na Casa da Música, a orquestra Divino Sospiro (dia 12), com a italiana Francesca Aspromonte, “uma das grandes sopranos da actualidade”, diz António Jorge Pacheco, num programa misto constituído por peças dos períodos barroco e clássico, e que tem como denominador comum “ilustrar a influência do italianismo, e da Escola Napolitana em particular, na música portuguesa”. De Pedro António Avondano a Mozart, de Domenico Cimarosa a David Perez, compositor e violinista setecentista nascido em Nápoles e que depois veio para Lisboa animar a corte de D. José I.

No dia seguinte, o Coro Casa da Música, dirigido por Paul Hillier, canta um programa de barroco russo intitulado Potências celestiais, com obras de Dmitri Bortnianski, Vasily Titov, Giuseppe Sarti e Alfred Schnittke, mas também do italiano Giuseppe Sarti, que marcou a atmosfera musical da corte da imperatriz Catarina II, a Grande, em São Petersburgo (século XVIII).

O penúltimo concerto do programa (dia 19) faz regressar ao palco da Sala Suggia A Criação de Haydn, com a Sinfónica do Porto e o Coro Casa da Música dirigidos pelo maestro Douglas Boyd na recriação desta obra que reconhecidamente constitui um dos momentos altos da história da música.