Skinheads levam Judiciária a pedir ajuda às minorias

Autoridades querem saber se há mais vítimas de discriminação racial e sexual. Arsenal dos suspeitos incluía marretas com pregos e suásticas representadas em ponto de cruz a exaltar supremacia ariana.

Foto
Enric-Vives Rubio

A Polícia Judiciária (PJ) lançou esta quinta-feira um apelo às minorias e às organizações que as defendem no sentido de denunciarem os crimes de ódio que lhes cheguem ao conhecimento, para que as autoridades possam actuar. O apelo surge na sequência da detenção, esta semana, de 21 skinheads, suspeitos de agressões, discriminação racial e homofóbica e tentativa de homicídio, entre outros delitos. Entre os detidos está aquele que é neste momento apontado como um dos actuais líderes do movimento, Bruno Monteiro. 

Algumas das suas vítimas “ficaram com sequelas” dos ataques de que foram alvo, assegurou o director da Unidade Nacional Contra-Terrorismo da PJ, Luís Neves: “Há pessoas que ficaram com problemas do foro neurológico, e outras com stress pós-traumático”. Não é de admirar. O arsenal de armas apreendidas nas residências dos suspeitos e agora apresentado pela Judiciária inclui marretas com pregos e soqueiras apetrechadas com lâminas. Algumas das soqueiras usadas são de acrílico, para evitar os detectores de metais dos bares frequentados pelos suspeitos, explicou o mesmo responsável. Além de armas de fogo, foi também apreendido material de propaganda: cartazes com a figura de Hitler e até um quadro com uma suástica representada em ponto de cruz e uma inscrição a exaltar a supremacia ariana. Também havia embalagens de gás-pimenta em spray e catanas com a inscrição "Morte aos traidores". 

Luís Neves diz que vários dos detidos já têm há muito tempo cadastro por discriminação racial e sexual. Alguns estiveram ligados ao homicídio de um jovem de origem cabo-verdiana, Alcindo Monteiro, em 1995, e podem ter estado envolvidos entretanto em novas tentativas de assassinato. “Nas 21 detenções há situações que podem configurar tentativas de homicídio”, observou Luís Neves. “E pode haver mais vítimas de crimes que não tenham apresentado queixa. Por isso fazemos-lhes um apelo, a elas e às organizações que as representam, para que nos façam chegar essa informação”.

Três destas 21 pessoas, com idades entre os 20 e os 40 anos, foram ouvidas esta quarta-feira em tribunal. Ficaram em liberdade a aguardar o desenrolar dos respectivos processos, embora sujeitas a apresentações quinzenais nas esquadras das suas áreas de residência e a termo de identidade e residência - por, segundo a presidente do tribunal judicial da comarca de Lisboa, haver perigo de continuação da actividade criminosa.

Os interrogatórios judiciais dos restantes 17 arguidos começam esta tarde. Além de discriminação racial, religiosa ou sexual e de tentativa de homicídio na forma qualificada estão em causa os crimes de ofensas à integridade física, dano, detenção de armas proibidas, roubo e ainda tráfico de estupefacientes: a Judiciária encontrou cannabis numa das buscas. 

"Esta investigação não visou investigar ideologias", ressalvou o director da Unidade Nacional Contra-Terrorismo, mas uma organização, o movimento Hammerskin, que teve origem em Dallas em 1998 e que usa as suas crenças como motivação para a prática de crimes. Luís Neves não confirmou a detenção de um guarda prisional da Carregueira, que também faria parte do grupo. "O grupo não é grande, mas tem novos elementos", assinalou. A prática de crimes serviria por vezes como ritual de iniciação dos novatos, "para demonstrarem coragem e apego à causa - sobretudo a da discriminação racial".

Sugerir correcção
Comentar