Bruxelas avança com 400 milhões em capital de risco para não deixar os EUA fugir

Comissão Europeia espera que o co-investimento com privados faça chegar 1600 milhões de euros às empresas.

Foto
AFP/JOHN THYS

A Comissão Europeia vai disponibilizar até 400 milhões de euros para fundos de capital de risco, numa tentativa de encurtar a distância que separa a União Europeia dos EUA quando se trata de financiar startups.

O comissário europeu para a Inovação, o português Carlos Moedas, anunciou o programa de financiamento esta terça-feira, na Web Summit, em Lisboa. “Um dos grandes desafios na Europa é começar uma empresa, escalá-la na Europa e ficar na Europa”, afirmou Moedas, já após o anúncio, num painel em que se debatiam as diferenças entre as indústrias tecnológicas europeia e americana. “As empresas, a meio da viagem, têm de ir para outro lado”, notou o comissário, referindo que, “em média, os fundos de capital de risco na Europa são muito mais pequenos do que nos Estados Unidos”.

De acordo com informação da Comissão Europeia, os fundos de capital de risco europeus totalizam, em média, 60 milhões de euros, metade dos 120 milhões dos congéneres americanos. A participação de dinheiro público é também maior deste lado do Atlântico, diz a Comissão, com 30% do investimento de risco a vir de financiamento público. 

Com os 400 milhões de euros que serão disponibilizados, a Comissão espera fazer chegar um total de 1600 milhões à economia, uma vez que a participação de dinheiro europeu nos investimentos não poderá exceder os 25% do total. As regras determinam também que pelo menos metade do capital terá de ser privada.

No debate, Carlos Moedas afirmou que uma das falhas do mercado de investimento de risco na Europa é não conseguir acompanhar as rondas de financiamento de maior dimensão, que muitas vezes obrigam as empresas a procurar investidores nos EUA. No palco principal da Web Summit, porém, houve quem apontasse outro problema: a multiplicidade de regulações e a ausência de um mercado comum digital. Trata-se de uma harmonização das regras dos vários países no diz respeito a questões cruciais para empresas que operam online (como são as telecomunicações e a gestão de dados), e é um processo em que a Comissão tem estado a trabalhar.

“Se a Europa pode ajudar com financiamento, isso é óptimo. [Mas] precisamos de uma economia digital única na Europa”, observou Gillian Tans, presidente executiva do site de reservas Booking, uma empresa que começou como uma startup em Amsterdão. Na mesma linha, o fundador da plataforma de boleias francesa BlaBlaCar disse ser “uma dor” estabelecer subsidiárias nos vários países europeus. “Precisamos de mais da Europa, em termos de leis e de regulação”, defendeu Nicolas Brusson. “Isto não vai acontecer de um dia para o outro. Mas para a próxima geração de empresas vai ser melhor.”

Tans afirmou ainda que uma startup nos EUA tem a vantagem de ter um mercado doméstico de grandes dimensões, onde pode testar o produto antes de se internacionalizar. No entanto, para o Booking, o lado positivo de ter nascido num país europeu é ter sido obrigado a “pensar muito cedo em como transpor fronteiras”. 

Sugerir correcção
Comentar