Trump, o mal amado

Quantas décadas teremos regredido esta noite? Quantas batalhas ganhas em anos volvidos terão sido degoladas em apenas uma votação?

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Andrew Kelly/Reuters

Quantas décadas teremos regredido esta noite? Quantas batalhas ganhas em anos volvidos terão sido degoladas em apenas uma votação? Ao longo das várias horas passadas de olhos postos na televisão a assistir a um mar vermelho que se espalhava pelo mapa americano tentava-se preparar o corpo para o choque. A cada estado chave absorvido pelo partido republicano, a esperança esmorecia e as possíveis respostas que nos permitissem enfrentar a surpresa que nenhuma sondagem, nenhum especialista político pôde prever ao longo do último ano, desaparecia.

Enquanto os mercados começaram a cair, as lágrimas corriam no rosto dos americanos, trocando olhares incrédulos entre as pessoas que permaneciam na sala, numa tentativa de entender este momento histórico para os Estados Unidos e para o mundo. O irreal tornou-se realidade no dia em que se assinala o 27º aniversário da queda do muro de Berlim.

Hoje quando acordarem Donald Trump terá sido eleito presidente dos EUA. Questões cruciais relativos à saúde, à justiça, ao ambiente, à posse de armas, aos problemas raciais, às relações internacionais, à democracia colocam-se hoje em causa, nesta transição radical. É um tsunami político com repercussões globais. Aprendemos mais nesta campanha sobre os defeitos dos candidatos do que sobre os seus planos políticos para o futuro da América e restantes países. Mas aprendemos durante estes quase dois anos de campanha que a Donald Trump falta a ponderação e o respeito necessários ao líder de um dos países mais poderosos do mundo. E há uma responsabilidade tremenda nisto, que a América envolta na sua bolha só conseguirá avaliar no futuro.

É, contudo, necessário parar e reflectir. Colocou-se um barco em águas nunca antes navegadas e é preciso perguntar: Que futuro ambiciona esta maioria seguir? Há algo tão profundo a acontecer na América que não seremos capazes de perceber as causas esta noite.

Quando o relógio bateu as três horas da manhã e Donald Trump realizou orgulhosamente o seu discurso de vitória, poucos americanos restavam na sala. A maioria partiu frustrada, quebrada pelos resultados dos seus próprios estados.

“É o fim da democracia na América.”, ecoou uma voz entre o silêncio da madrugada. A América acordará republicana e nenhum arrependimento existente poderá fazer o tempo recuar. Donald Trump tornou-se hoje no 45º Presidente dos EUA. Dorme América, se conseguires. Mas isto não é um sonho. É realidade. E a realidade pode ser um pesadelo mais longo do que um sonho pode acarretar. Os únicos muros existentes estão dentro de nós e esses, sim, são difíceis de derrubar.

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