Os próximos 500 jogos (pelo menos) da carreira de Cristiano Ronaldo
CR7 vai continuar no Real Madrid até 2021, mas diz que ainda tem mais dez anos de futebol nas pernas.
Nesta segunda-feira, Cristiano Ronaldo anunciou a sua retirada. Mas este anúncio não terá efeitos imediatos, e nem sequer é um abandono a médio prazo. O avançado português diz que vai deixar de jogar em 2026, ou seja, daqui a uma década, quando tiver 41 anos de idade. Onde vai acabar a carreira? Ainda não se sabe. Mas é garantido que vai jogar mais cinco anos no Real Madrid, tendo renovado contrato com o clube “merengue” até 2021. Se seguir a regra desde que chegou a Espanha em 2009, Ronaldo irá fazer no Real, pelo menos, mais cerca de 250, incluindo os da época em curso. E o dobro disto nos outros cinco anos, sem contar com os jogos na selecção portuguesa.
Cristiano Ronaldo está a cumprir a sua 15.ª temporada na primeira categoria e, entre clubes e selecção portuguesa, leva 820 jogos. A primeira época, entre equipa principal e equipa B do Sporting, foi a menos carregada, com “apenas” 33 jogos, sendo que, em sete das 14 temporadas anteriores disputou 50 ou mais partidas, sem contar com o calendário da selecção. A este ritmo, partindo do princípio de que se vai manter em patamares competitivos de exigência elevada e sem lesões graves, Ronaldo poderá ter, facilmente, mais cinco ou seis centenas de jogos pela frente.
Mas vai continuar a ser o mesmo jogador explosivo e potente? É uma pergunta difícil de responder porque é impossível prever se vai sofrer alguma lesão grave, mas há alguma margem para especular com propriedade. “O que é que nós sabemos? Sabemos que ele tem características de grande potência muscular, sabemos que tem um estilo de vida muito centrado no treino para a manutenção dessas qualidades e há indícios que alguns dos parâmetros dessas qualidades físicas se mantêm bastante bem”, começa por dizer ao PÚBLICO António Veloso, director do Laboratório de Biomecânica e Morfologia Funcional da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) de Lisboa.
Segundo testes em laboratório realizados com a selecção portuguesa em 2006 e cujos dados foram revelados no final do ano passado, a potência é o que distingue Cristiano Ronaldo da maioria dos futebolistas, na corrida, no remate, na impulsão vertical. “Não garantiria que ele tivesse as mesmas condições que tem agora, mas ganha em experiência, em domínio das situações de jogo e da importância que o traquejo de competição tem. Do ponto de vista do empenho, nunca vimos uma variação para baixo. Antes pelo contrário. Quando fizemos os testes, os dados dele são de compêndio. É como um atleta deve ter a sua condição física, mas não é tudo inato”, diz o académico.
Excluindo destas contas os guarda-redes, que geralmente estão entre os futebolistas com maior longevidade competitiva, António Veloso refere o exemplo de Javier Zanetti para ilustrar a forma como um jogador se pode manter em alto rendimento para lá dos 40 anos. “Ele foi campeão de Itália e da Liga dos Campeões com o Inter Milão quase com 40 anos [tinha 37] e a jogar todos os minutos de todos os jogos”, observa — o defesa argentino teve, de facto, uma carreira impressionante, com 858 jogos pelo Inter em 19 temporadas, acabando a carreira em 2014, com 41 anos.
António Veloso admite que, à medida que os anos avançam, Cristiano Ronaldo posa vir a ter menos “acções explosivas” durante um jogo, mas isso não quer dizer que não as mantenha e que não as possa executar até fases mais adiantadas do encontro. “A resistência no futebol não é uma resistência contínua. Há períodos curtos de sprints intervalados por velocidades mais baixas e é cada vez mais isto que se treina. Cristiano Ronaldo tem características para manter esse tipo de intervenção e a experiência fará com que seleccione melhor os momentos dessas intervenções”, sustenta, acrescentando que, no atletismo, os “sprinters”, atletas com enorme potência muscular e capacidade de explosão, também têm uma longevidade competitiva assinalável.
Chegando, pelo menos, ao fim do seu novo contrato com o Real Madrid, Ronaldo vai ser “blanco” por 12 temporadas, sendo que a imprensa internacional avança com um salário de 23 milhões por cada uma das próximas cinco épocas para o craque português. Com a projecção de jogos que pode fazer nos próximos cinco anos pelo Real, é bem provável que entre no “top cinco” da história do clube, ele que já é o melhor marcador da história do “merengues”, com uma média superior a um golo por jogo (371 golos em 360 partidas). Para chegar aos números do homem que está no topo (Raúl Gonzalez, 741), terá de ficar mais tempo no Bernabéu, mas essa parece ser a sua vontade, permanecer até à idade em que deixará de ser futebolista.
“Quero terminar a minha carreira no Real. Este é o clube do meu coração e vou estar sempre ligado a ele. Que fique claro, este não é o meu último contrato. Quero jogar até aos 41 anos”, diz CR7, que tem na cabeça um número redondo de golos: “500 golos é possível, mas não vivo obcecado com isso. O importante são os títulos.”